Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

Que tal falarmos sobre contribuições financeiras na igreja?

Por Ruy Cavalcante

Dízimos, ofertas e contribuições financeiras na igreja são questões recorrentes durante minha caminhada cristã e tenho certeza de que o mesmo acontece com a maioria das pessoas que convivem numa comunidade cristã. Sempre me deparo com indagações a esse respeito, seja pessoalmente, na escola bíblica ou na faculdade de teologia.

Por essa razão, gostaria de tratar um pouco dessa questão de uma forma assertiva, alinhada com os fundamentos bíblicos, porém sem grandes aprofundamentos doutrinários. Estou ciente das controvérsias que envolvem o tema dentro das igrejas, mas conto com a maturidade dos leitores para refletirem comigo a respeito e de antemão peço perdão, porque este artigo será um pouco extenso.

De antemão, oriento ao leitor conferir/confirmar com a bíblia tudo o que eu escrever, pois eu não sou o senhor da verdade cristã, mas ela (a Bíblia) sim. Tentarei ser o mais humilde possível para ensinar apenas o que ela ensina.

Sigamos.

O texto “áureo” de Malaquias, a respeito dos dízimos, usado por uma grande parte dos pastores e líderes das denominações cristãs, não foi escrito para o povo diretamente, mas para os sacerdotes e isso é muito fácil observar se não isolarmos esta passagem do restante do livro.

Se lermos o livro de Malaquias por inteiro, atentamente, perceberemos que ele direciona seus alertas e exortações aos sacerdotes. Vou resumir o contexto e depois você mesmo, leitor, poderá ler e observar isso.

Malaquias acusa os sacerdotes de estarem roubando a Deus, e faz isso de forma literal e não alegórica como a maioria ensina. Como você bem sabe, os dízimos foram instituídos como ordenança na Lei mosaica (já existiam dízimos antes, mas não como mandamento, a exemplo de Abraão que deu dízimos a Melquisedeque apenas uma vez).

Continuando, eles foram instituídos como ordenança por uma razão muito clara: Após a divisão das terras de Canaã, onze tribos receberam sua parte, porém a tribo de Levi não recebeu porção de terra, pois eles deveriam viver exclusivamente para serviço do tabernáculo/templo/rituais. Dessa forma, como não possuíam terra e, portanto, não poderiam plantar, colher, criar animais nem coisas semelhantes a estas, as outras onze tribos tinham a responsabilidade de suprir suas necessidades através dos dízimos de todos os seus produtos.

Essa era a porção dos levitas, é a isso que Malaquias se refere quando diz “para que haja mantimentos na minha casa”. Mantimentos pra quem? Para uma casa física? Para Deus? Não, para os levitas.

Dessa forma, enquanto o povo dizimava e ofertava, os sacerdotes, responsáveis por receber as contribuições e repassarem integralmente aos levitas, estavam retendo uma parte para eles, não estavam levando “todos os dízimos”, ou seja, estavam roubando. O resto você já sabe.

Eu citei que já haviam dízimos antes da Lei e é verdade, Abraão deu dízimos a Melquisedeque (Gn 14:18-20), e eu te pergunto: Por que razão Abraão deu seus dízimos? Observe bem o texto, vou perguntar e eu mesmo responderei, você apenas confirma no texto.

Por mandamento? Não. Não há qualquer ordem dada a ele nesse sentido.

Para ser abençoado? Não. Note que ele foi abençoado antes de dizimar (v 19), e mesmo antes disso ele já era abençoado pelo próprio Deus, tanto que tinha muito para dizimar.

Então qual foi a razão? Foi por reconhecer que ele era sacerdote do Deus altíssimo e quis adorar a Deus com essa atitude.

Dessa forma já temos claro o propósito inicial dos dízimos: Adorar a Deus, reconhecer que Ele é o Senhor e o supridor de nossas vidas, e isso é feito por livre e espontânea vontade, não por mandamento. Lembre-se que “o Senhor ama quem dá com alegria” (2 Co 9:7).

Vamos a um segundo propósito dos dízimos.

Lembrando novamente de Malaquias e da lei. Os dízimos e ofertas eram usados para que os levitas tivessem suas necessidades supridas, uma vez que não tinham terra para plantar, colher, criar animais ou executar outras tarefas que lhes rendessem lucros. E vou além, olha o que diz a Lei a respeito desse assunto:

“Ao final de cada três anos, tragam todos os dízimos da colheita do terceiro ano e armazene-os em sua própria cidade, para que os levitas, que não possuem propriedade nem herança, e os estrangeiros, os órfãos e as viúvas que vivem na sua cidade venham comer e saciar-se, e para que o Senhor, o seu Deus, o abençoe em todo o trabalho das suas mãos”. (Dt 14:28-29)

Fica claro um segundo propósito que a Lei dá aos dízimos: Suprir (ou socorrer) as necessidades dos levitas, dos estrangeiros, dos órfãos e das viúvas. Ora meu irmão, a expressão “estrangeiros, órfãos e viúvas” nada mais é do que uma referência a todos aqueles que passam necessidades, estando sob nosso alcance socorrê-los.

Naquela época, estrangeiros também não poderiam ter posses na terra de Israel, então eles eram um grupo absolutamente necessitado, bem como órfãos, por motivos óbvios, e viúvas que pela lei mosaica, não herdavam os bens do marido falecido, estes ficavam com a família do morto. Quem então são os estrangeiros, órfãos e viúvas no contexto evangélico? São todos aqueles ao alcance da nossa congregação que passam por necessidades.

Isso é facilmente observável em toda a bíblia. No novo testamento, por exemplo, todas as vezes que Paulo trata do assunto ‘contribuições’, é sempre no sentido de socorrer irmãos em necessidades, suprir as necessidades de missionários e coisas semelhantes a estas.

“e para que o Senhor, o seu Deus, o abençoe em todo o trabalho das suas mãos”.

Esta conclusão se refere a uma ação circular. Eles deram os dízimos dos frutos de seu trabalho (do trabalho de suas mãos), ao fazerem isso, Deus continuará abençoando, e eles continuarão reconhecendo a mão do Senhor, e dizimando, mantendo o ciclo de obrigações, bênçãos, adoração e socorro a quem necessita.

Concluo dizendo o seguinte: O termo dízimo, conforme usado no Antigo testamento, herança da lei, não há mais sentido na nova aliança, ou seja, não é mais mandamento.

Porém o dízimo continua existindo (pois já existia antes da Lei), e é natural que todo aquele que crê, confia e adora ao Senhor, dê dízimos e dê ofertas. Como eu falei antes, dízimo é obra, e uma boa obra, pois tem um maravilhoso objetivo (adorar a Deus e socorrer irmãos em necessidade), e fomos criados para as boas obras (Ef 2:10).

Dízimos e ofertas em hipótese nenhuma podem usados como uma forma de troca com Deus, onde eu contribuo para receber bênçãos. Não! Eu dizimo porque já fui abençoado e através dessa ação eu reconheço isso. É um princípio totalmente inverso do que muitos têm ensinado em nossos dias.

Além de uma forma de escambo espiritual, as contribuições dadas nas igrejas contemporâneas, em geral, são utilizadas para fins de manutenção e construção de templos, bem como para coisas que não possuem a menor relevância para o Reino de Deus. Não entrarei na questão se é correto ou não utilizar dízimos para construir templos, mas com certeza esse nunca foi um propósito majoritário do dízimo bíblico.

Em outras palavras, eu não preciso dizimar PARA SER abençoado, eu dizimo porque SOU abençoado.

E quem não tem o que dizimar, como fica? Ora, em conformidade com tudo o que foi dito anteriormente, esse será o que receberá o auxílio dos dízimos e, diferente do que alguns ensinam, ele não será amaldiçoado, antes, será abençoado pelos dízimos de quem tinha condições de dar.

Bom, pelo menos é assim que deveria ser.

Encerro apresentando outro problema: Quem usa os dízimos para os propósitos que a bíblia dá a eles? Que congregação usa este dinheiro para socorrer os irmãos em necessidade?

Felizmente há sim congregações que entendem e vivem isso, mas infelizmente não parecem ser a maioria.

Então é isso, o texto ficou maior do que eu gostaria, mas o assunto é realmente muito amplo e há muito mais a ser dito e, principalmente, a ser vivido.

Deus nos dê Graça.

 

 

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