Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

Vamos conversar sobre adoração?

Por Ruy Cavalcante

Uma das coisas que sempre desejei como cristão, era que nossa mania de sacralizar músicas cristãs (ou gospels, se preferir) diminuísse. Infelizmente isso nunca aconteceu, na verdade continua aumentando gradativamente.

Cada dia mais damos às canções um prestígio que deveria pertencer apenas à Palavra de Deus. Canonizamos músicas pelo simples fato de haverem sido compostas por crentes evangélicos ou por fazerem sucesso e blindamo-las de toda forma de crítica, ainda que muitas vezes o próprio Evangelho ensine o inverso do que algumas canções afirmam.

De certa forma, parece que a maioria de nós resumiu toda a adoração a Deus, na simples atitude de cantar uma música de mãos levantas, por isso não admitimos que ela tenha um papel secundário dentro do processo de adoração cristã. Em muitos casos ela se tornou o carro chefe, o personagem principal de nossos cultos, como se Deus fosse apenas um expectador de nossas apresentações musicais.

Não poderia perder a oportunidade de dialogar com vocês sobre esse tema. Gostaria de iniciar fazendo uma afirmação crucial:

A música é apenas uma das formas disponíveis para o ser humano EXPRESSAR sua adoração a Deus, não é sagrada, não é adoração em si mesma, não tem vida.

Vida temos nós, dada por Deus, portanto, somos nós quem adoramos, e isso se faz, principalmente, sendo fiel a Deus. Deus pode suscitar pedras para adorá-lo, mas não é seu desejo ser adorado por coisas inanimadas, e sim por seres humanos.

É urgente a nossa necessidade de aprender mais sobre adoração, e eu queria deixar uma pequena contribuição.

Adoração é muito mais do que cantar. A adoração verdadeira, na maioria das vezes, sequer faz uso de palavras, pois não é algo externo, palpável, audível, mas interna, pessoal, espiritual, que flui do nosso interior. Vejamos um exemplo do que eu estou tentando dizer:

“Tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai o Senhor vestidos de trajes santos”. (Sl 29:2)

Note que interessante a afirmação do salmista, a respeito da adoração. Ele diz: “adorai o Senhor vestidos de trajes santos” (JFA-RA, grafia brasileira, grifo meu). Outra tradução diz: “adorai o SENHOR na beleza da sua santidade” (JFA-RC, grifo meu).

Sua afirmação é imperativa e clara, dispensando maiores esforços de interpretação. Ele não tutela a adoração a um simples entoar de voz, a uma melodia, a rimas, nem tampouco ao levantar de mãos e derramar de lágrimas, mas a uma vida de santidade. Precisamos adorar a Deus revestidos de santidade, essa é a verdadeira adoração.

Seja sincero, que sentido há numa adoração desprovida de obediência a Deus e fidelidade a sua Palavra? De que adianta cantar, chorar e levantar as mãos no culto, se fora dele eu desprezo o amor, o perdão, o arrependimento, a comunhão e a família? Chorar no culto e fazer chorar fora dele não tem o menor valor.

O próprio Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21, ver também o contexto). Isso também significa que de nada adianta cantar lindas canções de louvor, pois se eu não sou fiel a Ele, seremos apenas como o sino que ressoa, muito barulho, mas que sua função não perdura mais que alguns segundos. Seremos adoradores apenas de lábios, mas com o coração distante de Deus, e como diriam os antigos, nossa adoração não passa do teto.

Por falar em adorador, chega a ser cômico quando ouço alguém se apresentar como adorador do Senhor, pois sempre significa que ele é apenas um cantor gospel ou, quando muito, um ministro de louvor na igreja. Admira-me tanto equívoco enraizado nas mais variadas comunidades cristãs.

Entenda isso: Toda mulher e todo homem que se reveste de santidade, que ama a Deus e a seu próximo, que cuida de sua família, que serve sua comunidade, é um adorador, esteja ele cantando ou não.

Com isso não estou defendendo que exista perfeição na vida de adoradores, pois eles também pecam, escorregam, tropeçam e manifestam imperfeiçoes diversas, porém amam, porém perdoam, porém servem uns aos outros.

Outro engano ilógico é quando o ministro diz à congregação: “Dê o seu melhor para Deus!” e a comunidade entendem como: “Pule, grite, cante!”.

Se o nosso melhor para Deus for apenas um punhado de palmas e gritos, temo pelo nosso futuro na almejada glória eterna.

Bom, vou ficando por aqui, embora tenha a devida noção de que há muito mais que se conversar a respeito deste assunto.

Ainda assim, meu desejo para você é que possa caminhar cada dia mais nos trilhos fundamentados pelos apóstolos (os verdadeiros), aproximadamente dois mil anos atrás, e que possamos ser uma verdadeira geração de adoradores, reconhecidos não pelas canções que entoamos, mas pela beleza da santidade em que caminhamos.

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