Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

Maturidade Cristã

Por Ruy Cavalcante

“Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?” (1Co 3:1-3)

Infelizmente em nossos dias, os mesmos cristãos que se autodenominam radicais ou “loucos por Cristo” são também os mais imaturos. Poucas coisas deixam isso tão escancarado quanto canções e pregações proferidas por esta geração, que se desenvolvem a partir de afirmações do tipo “Disseram que eu não era capaz” ou “Não reconheceram o meu valor”.

Percebem a bobagem contida em tais lamentações? Volto a elas ao final do artigo.

Umas das preocupações de Paulo com seus irmãos em Cristo consistia em que estes se tornassem cristãos maduros, fortes, preparados e capazes de suportar as adversidades que viriam. Aos coríntios ele realiza uma forte exortação, reclamando de não poder sequer falar-lhes coisas mais sérias e importantes, tampouco ser enfático como devem ser as palavras dirigidas a adultos maduros. Nesse texto ele cita uma das razões pela imaturidade deles: A carnalidade.

Por serem carnais eles ainda não estavam preparados para o alimento sólido. Talvez esse tipo de alimento os causasse ainda mais, possivelmente porque não compreenderiam a profundidade de suas palavras, seriam superficiais como crianças.

Aliás, superficialidade é um grande mal atualmente, mesmo entre cristãos. Grande parte de nós possui um conhecimento superficial da palavra de Deus, tornando-nos incapazes de desenvolver firmeza e vigilância. A falta de preparo bíblico é crônica no meio evangélico.

Mas vamos lá, é preciso responder uma pergunta inicial: O que é maturidade cristã?
Recorramos novamente às palavras de Paulo, desta vez aos Colossenses:

“Nós o proclamamos, advertindo e ensinando a cada um com toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo. Para isso eu me esforço, lutando conforme a sua força, que atua poderosamente em mim”. (Cl 1:28-29 – Grifo meu)

A palavra “perfeito” nesse texto é a tradução do adjetivo grego “teleios”. Literalmente significa “completo” ou “de desenvolvimento completo”. Em outras palavras, Paulo não fala de uma perfeição absoluta e literal, mas de um desenvolvimento completo, ou seja, de maturidade.

Ser um cristão maduro é ser alguém com um relacionamento maduro com Cristo, a ponto de podermos adorá-lo pelo que Ele de fato é, confiando nEle, amando-o acima de todas as coisas e, finalmente, lhe obedecendo.

Esse tipo de comunhão só é possível quando O conhecemos, o que significa que sem o conhecimento da revelação a qual possuímos dEle mesmo, que é a Palavra, e sem oração, é impossível ser um cristão maduro. Faz-se necessário também um esforço pessoal (no estudo e oração) para que cheguemos a tal nível de amadurecimento. Observe que Paulo enfatiza sua luta e esforço, no ensino e advertência, em favor desse desenvolvimento, sem esquecer que é a força e o poder de Deus que opera em nós para realizarmos tal luta.

Infelizmente há muitos cristos sendo ensinados, mas somente o conhecimento do Cristo verdadeiro é capaz de nos capacitar à maturidade. Não existe o cristo da prosperidade, o cristo das portas abertas, o cristo dos sinais e maravilhas, o que existe é o Cristo Soberano, Filho de Deus, o qual lhe aprouve sofrer a morte e o sofrimento que era nosso, a fim de sermos libertos do pecado e justificados pelo seu sangue. Esse é o Cristo que precisamos conhecer e a falta dele tem gerado milhões de cristãos “loucos por Cristo”, porém absolutamente imaturos.

Esse Cristo só pode ser encontrado nas Escrituras Sagradas. E essa maturidade conquistada num relacionamento profundo com ele nos torna a casa firmada na rocha (Mt 7:25).

Estar firmado na rocha significa muitas coisas. Significa, por exemplo, ser aquele homem ou aquela mulher mais que vencedora, que embora ciente de que possa passar por tribulações, perseguições, prisões, decepções, frustrações, traições e até mesmo pela morte, sabe que no fim será vencedor, pois Cristo é sua vitória, e assim persevera até em meio ao caos, mantendo-se são e em fidelidade.

Também significa ser aquele irmão que não nega o perdão a quem lhe ofender, perdoando da forma como Cristo nos perdoou, ou seja, sem a necessidade de requisitos e humilhações.

De fato, ser um cristão radical é ser um cristão maduro o suficiente para abandonar as velhas birras e perdoar, amar e servir. Um cristão radicalmente maduro jamais oraria pedindo que Deus exerça juízo contra um desafeto, pelo contrário, ele amará, perdoará, fará o bem e orará por ele (Lc 6:27-28).

E convenhamos, desfalecer simplesmente porque alguém nos disse que “não vamos conseguir” ou que “não somos capazes”? Quanta imaturidade, quanta meninice! Só a preocupação com estas bobagens já denota o nosso irrisório desenvolvimento espiritual.

Muitos cristãos hoje têm absoluto pavor de simples críticas sobre suas condutas, se revoltam se forem interpelados e exortados, ou perdem a compostura com as menores ofensas. Sinceramente, estas pessoas são radicais sim, radicalmente infantis e despreparadas para a obra de verdade, na vida real, fora dos portões da gospelândia.

Fujam disso, busquem o Cristo bíblico, sejam cristãos prontos, desenvolvidos, firmados na rocha onde tempestade algum poderá nos abalar, para que o nome de Deus seja glorificado, mesmo através de nossas vidas imperfeitas.

Referência Bibliográfica

STOTT, John. O discípulo Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011.

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