Em 2009, após concluir meu bacharelado em teologia, resolvi transferir para a palavra escrita o ativismo que já praticava na academia, na igreja e entre vários amigos cristãos.
Vivia-se o “bum” do evangelicalismo no Brasil, após seu crescimento explosivo durante a primeira década deste novo milênio. Um crescimento absolutamente questionável, fundamentado em doutrinas estranhas à palavra, fruto da massificação do movimento neopentecostal e das ramificações da confissão positiva.
Nesse período começam a surgir uma enorme quantidade de blogs apologéticos, organizados e editorados por líderes e jovens cada vez mais preocupados com os rumos da igreja protestante. Eu estava entre eles.
Começo a escrever em blogs pessoais, regionais e nacionais. Com isso vou conhecendo pessoas no Brasil inteiro que compartilhavam do mesmo anseio apologético, buscando, ao nosso modo, contribuir para a saúde doutrinária e espiritual de nossas igrejas.
Neste período, brotam movimentos nacionais em busca de um retorno às escrituras, tais como EPS (Evangelho Puro e Simples), VE (Voltemos ao Evangelho) e MEEB (Marcha pela Ética Evangélica Brasileira).
Eram centenas de jovens absolutamente engajados nisso, escrevendo, compartilhando, produzindo vídeos, protestando nas redes, espalhando panfletos, colando mensagens em portas de templos (numa versão mixuruca de Lutero na Porta da Catedral de Wittenberg).
Muitos líderes aderiram ao movimento e começaram a se envolver também, escrevendo livros, criando blogs e levando o movimento de retorno às Escrituras aos mais diversos congressos teológicos do Brasil.
Nem todos são absolutamente cientes destes acontecimentos, pois eram eventos que aconteciam “para dentro”, ou seja, eram voltados especialmente ao público evangélico e claro, não alcançava a todos, nem perto disso.
Entretando, é impossível contar quantos amigos fiz nesse período. Foram muitos, centenas, por todo lugar. A maioria deles permanecem até hoje, muitos se tornaram mais que amigos.
Estamos em 2025, 16 anos se passaram e estes jovens se tornaram adultos 30+, 40+, porém continuam intrépidos e altamente engajados.
Mas infelizmente, tudo mudou.
O que antes era uma luta incansável por um retorno ao Evangelho Puro e Simples de Cristo, de maneira que as pessoas pudessem encontrar consolo, acolhimento, descanso e socorro ao se aproximarem de comunidades cristãs, tornou-se uma guerra ideológica insuportável e interminável.
Não é mais Cristo que está na boca deles, nem é o combate ao falso Evangelho que os consome.
Agora guerreiam em nome de seu político e o que lhes consome é o absoluto asco por quem não está igualmente apaixonado, e o pior, por quem se apaixonou pelo político do lado de lá.
As mesmas pessoas, os mesmos jovens, os mesmos líderes que incansavelmente e piedosamente desejavam contribuir para igrejas saudáveis, agora a adoecem com uma disputa incessante por hegemonia política e ideológica, como se de fato houvesse alguma semelhança e aliança entre qualquer ideologia humana e o Evangelho.
O amor que tinham por quem abraçou um falso evangelho, tornou-se ódio por quem abraçou a falsa ideologia.
Mas toda ideologia é falsa e toda falta de amor é condenável.
Como isso aconteceu? Como esqueceram tão rapidamente?
“Admiro-me que vocês estejam se afastando tão depressa daquele que os chamou para si por meio da graça de Cristo. Vocês estão seguindo um caminho diferente que se faz passar pelas boas-novas, mas que não são boas-novas de maneira nenhuma. Estão sendo perturbados por aqueles que distorcem deliberadamente as boas-novas de Cristo” (Gl 1:6-7).
Como puderam ser perturbados dessa maneira, pervertendo o Evangelho e tornando-o um mero instrumento ideológico, um lacaio de uma politicagem estupida, violenta, jactante, que não produz nada além de facções e contendas? Irmãos contra irmãos, pais contra filhos, amigos contra amigos.
E sangue.

