Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

A igreja é importante, a família é mais

Por Ruy Cavalcante

Um problema que não é recente, mas que nos últimos anos, com o advento do neopentecostalismo, tem se solidificado, é a confusão que fazemos quanto as nossas prioridades enquanto cristãos. O que devemos priorizar? Deus? A Igreja? Os Irmãos? A família? Infelizmente nessa questão a família está no centro da batalha, levando saraivadas por todos os lados.

Apesar de o discurso invariavelmente ser em favor dela, na prática a família quase sempre é renegada a um segundo plano. São casos e mais casos de famílias desestruturadas, divórcios e perturbações no lar, ocasionados por um descompasso entre o ensino bíblico e as regras eclesiásticas.

Eu mesmo conheço de perto alguns casos emblemáticos, como o de um grande amigo meu, que durante uma viagem a trabalho me relatou como seu casamento estava ruindo. Na oportunidade, durante a conversa cheguei a aconselha-lo a fim de que dedicasse mais tempo às necessidades de sua esposa, a ouvi-la, a dar-lhe atenção e dedicasse mais tempo. Foi então que ele me revelou que haviam se passados mais de 3 meses desde a última vez que saíram juntos, somente os dois. Na ocasião foram a uma lanchonete, comeram um sanduiche e meia hora depois retornaram, porque havia mais uma reunião para participarem na igreja. Ao questioná-lo quanto ao excesso de reuniões, ele afirmou que elas ocorriam todos os dias, por motivos diferentes, e que não poderia se ausentar, pois, segundo ele, se não priorizasse Deus, como Ele lhe ajudaria?

Esse é um discurso comum em muitas igrejas, a de que priorizando as atividades da congregação, você estaria priorizando Deus e, tendo Deus a preferência absoluta na vida do ser humano, a família poderia ficar para depois. Há, porém, uma enorme falha nesse conceito, uma vez que a congregação não é Deus!

Essa confusão precisa cessar, a igreja precisa ser agente de Deus para restaurar famílias, não para destruí-las.

“Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo”. (I Tm 5-8)

Eu acredito piamente que esta deturpação não seja fruto de má fé destas igrejas, mas independentemente da intenção, atente-se a isso: se tua igreja o exige de forma tão intensa que você não possui mais tempo sequer para sua família, e ainda te recriminam quando você tenta dedicar tempo a ela, cuidado, ela já não está mais agindo como igreja e você não está agindo como cristão.

Cuide de sua família, dedique tempo e amor a ela, não seja pior do que os incrédulos. A igreja é importante, a família é mais.

Quando damos preferência a família estamos, sem dúvida nenhuma, dando preferência a Deus, priorizando sua vontade e sua herança deixada para nós. Se tivéssemos de grafar nossas prioridades, com certeza a família teria a primazia em relação à congregação. Até mesmo o presbítero deve primeiro cuidar de sua própria casa, só então se dedicar aos cuidados da igreja (I Tm 3:4-5).

Por favor, não entenda que eu tento com estas palavras desprestigiar a igreja local, de forma nenhuma. Sou grande defensor da congregação, do congregar e servir a Deus em comunhão com outros irmãos, mas esta deve ser uma pratica de santidade e amor, que fortaleça a família no lugar de prejudica-la.

Não podemos usar a desculpa de servir a Deus para negligenciar a família, isso não é serviço cristão, pois Deus com certeza se alegra com um lar unido e odeia quem o embaraça.

Se existisse maldição para a vida de um verdadeiro cristão, ela com certeza não seria para aquele que ao se dedicar às necessidades de sua família, se ausentou de algumas reuniões na igreja, mas para o que fez o caminho inverso, deixando seu lar entregue a própria sorte enquanto cuidava se afazeres menos importantes, como uma reunião de líderes ou um “encontro com Deus”.

Entenda isso: Você encontrará com Deus mais vezes quando estiver ao lado de sua família, dedicando a ela todo o amor que você seja capaz de doar, do que em um retiro espiritual, fazendo coisas que você poderia fazer em sua própria casa, ao lado dos seus. Não há nada mais espiritual para o cristão do que amar, proteger e cuidar de sua casa.

Não dê ouvidos a quem te cobra o contrário, pois tal pessoa não está a serviço de Deus quando age desta maneira. E que o amor seja o combustível de nosso relacionamento primeiramente com Deus e, logo em seguida, bem coladinho mesmo, com a família.

Paz a todos.
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