Foto: Victor Augusto
Quem passa pelo corredor de peixe do CEASA, em Rio Branco, logo reconhece a voz e o sorriso de Zé Ribamar Monteiro. Para os fregueses de longa data, ele é apenas Zezinho do Rio Purus — dono de uma fala mansa e de um balcão sempre limpo, onde o tambaqui sem espinha, o camarão graúdo e o filé de tilápia se alinham com rigor e carinho de quem vive para atender bem.

“A gente vende todo dia. Todo dia tem cliente. E trabalha com qualidade, coisa de primeira”, resume, enquanto ajeita um tambaqui para mostrar com orgulho.
O apelido nasceu com a banca, aberta em 2016, e se firmou como ponto de encontro da comunidade. Ali, Zezinho e a família misturam tradição e persistência: piscicultura, carne de porco, carneiro, galinha caipira, camarão e o que não pode faltar — o peixe. “Nosso carro forte é o tambaqui sem espinha”, diz.

Ao lado dele, o balcão exibe filés de surubim, caparari, peixe filhote, piau e curimatã, além de camarão em três versões: o pequeno, o graúdo e o que já vem pronto, salgado. Há ainda o filé de tilápia, vindo de Brasiléia.
Nem tudo, no entanto, nasce aqui. O tambaqui, por exemplo, vem de Porto Velho, em Rondônia. “Nosso tambaqui é todo de Porto Velho, já o piau e a curimatã chegam de Boca do Acre, e os camarões, “vêm de fora”. Entre compras e conversas, Zezinho sempre frisa: a limpeza e a higiene são parte inseparável do trabalho.

Outros nomes também surgem no cardápio, como surubim, pirarucu, piramutaba e caparari, além do peixe filhote. Cada espécie carrega um pouco da geografia dos rios amazônicos, misturada à logística das estradas que garantem o abastecimento diário.
Concorrência e dificuldades
Zezinho reconhece que já houve tempos de mais movimento. “Na gestão do Marcos Alexandre foi melhor pra nós. A venda era muito melhor. Hoje deu uma queda, mas a gente segue vendendo”, lembra. Ele cita que algumas fazendas de piscicultura locais chegaram a ser concorrentes, mas não resistiram. “Depois eu vou explicar pra você a situação dos produtores daqui”, disse, deixando no ar a fragilidade da produção local.
Além disso, há a sazonalidade: “Os produtores, os agricultores só vêm na Semana Santa”, observa, mostrando como a demanda explode nessa época, mas não se mantém ao longo do ano.

Entre uma venda e outra, o comerciante abre o caderno de preços:
– Tambaqui limpo — R$ 25,00;
– Peixe sem espinha — R$ 46,00;
– Camarão (pacote salgado) — R$ 120,00;
– Porco — R$ 28,00;
– Carneiro — R$ 32,00;
– Galinha caipira (porção completa) — R$ 60,00.
São valores que ajudam a compor o retrato de quem abastece a mesa do acreano, mesmo diante de gargalos de produção e concorrência de fora. “Os produtores, os agricultores só vêm na Semana Santa”, comenta Zezinho, apontando para a sazonalidade que ainda limita o mercado local.
No fim, a cena é de feira e de família. Nossa reportagem pede permissão para fazer as imagens do balcão e com muito entusiasmo ele acena positivamente. “Pode sim, fica à vontade. Mostra aqui, limpo, limpo”, diz, orgulhoso, erguendo um tambaqui para a câmera. Entre risos, correria de fregueses e brincadeiras, o clique registra mais que um balcão de peixe: mostra a persistência de quem insiste em manter viva uma tradição amazônica.
“Todo dia vende. Todo dia a gente tá aqui.”



