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O Instituto Marielle Franco lançou nesta quarta-feira (27), no salão nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília, a pesquisa inédita “Regime de ameaça: a violência política de gênero e raça no âmbito digital (2025)”. O levantamento revela a dimensão alarmante dos ataques sofridos por mulheres negras no cenário político brasileiro e expõe como essa violência se organiza de forma sistêmica e coordenada.
Segundo os dados, 71% das ameaças registradas envolvem morte ou estupro, enquanto 63% das mensagens de ódio com referência à morte citam diretamente o assassinato da vereadora Marielle Franco, transformando seu feminicídio político em um símbolo de intimidação contra outras mulheres negras que disputam espaços de poder. O estudo aponta ainda que as principais vítimas são mulheres negras cis, trans e travestis, LGBTQIA+, moradoras de periferia, defensoras de direitos humanos, parlamentares, candidatas e ativistas.
A pesquisa foi desenvolvida a partir de atendimentos realizados pelo Instituto Marielle Franco em parceria com o Instituto Alziras, o portal AzMina, o coletivo Vote LGBT e o centro de pesquisa Internet LAB, além de dados da Justiça Global e da organização Terra de Direitos. Para a diretora executiva do instituto, Luyara Franco, filha de Marielle, os números comprovam que a violência política digital não é um caso isolado, mas parte de um sistema de exclusão.
“São mulheres que carregam, na vida e na luta, a base que sustenta este país, mas seguem invisibilizadas. A violência que atinge cada uma delas é também uma violência contra a democracia”, afirmou. Ela acrescenta que o estudo reforça a necessidade de medidas urgentes: “Queremos que essa publicação sirva de base para ações concretas de proteção e para responsabilizar agressores e plataformas digitais. Nosso compromisso é com a memória, a justiça e a construção de um país em que as mulheres possam existir e disputar espaços políticos sem medo”.
Entre as recomendações apresentadas está a criação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça, que deverá orientar a atuação do Estado, do Legislativo, da sociedade civil e das plataformas digitais para garantir a proteção de mulheres negras na política.
Criado em 2019 pela família de Marielle Franco, o instituto que leva seu nome é uma organização sem fins lucrativos dedicada a preservar sua memória e multiplicar seu legado. Desde a fundação, a entidade trabalha para inspirar, conectar e fortalecer mulheres negras, pessoas LGBTQIA+ e periféricas na luta por um país mais justo e igualitário.