O caso do recém-nascido que apresentou sinais vitais durante o sepultamento e morreu horas depois de ser levado ao hospital chocou o Acre e escancarou fragilidades profundas na rede pública de saúde. Para o vereador João Paulo, presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Rio Branco, o episódio deve ser tratado como ponto de inflexão — um alerta para rever fluxos, protocolos e condições de trabalho em todas as unidades.
“Foi um sábado doloroso para todos nós. Como profissional da área da saúde e como pai, esse caso me abalou profundamente. Mas ele precisa servir para que a gente olhe o sistema de forma honesta e ampla, sem caça às bruxas”, disse.
O vereador, que é psicólogo e tem longa trajetória na gestão de unidades de saúde, defende que a apuração envolva não apenas o hospital, mas toda a linha de cuidado, desde a atenção básica até a maternidade. “Não existe erro isolado quando o sistema está sobrecarregado, mal gerido e sem integração entre os níveis de atendimento. A solução não é punir, é reformar.”
Durante visita técnica à Maternidade Bárbara Heliodora, João Paulo e o deputado estadual Adailton Cruz ouviram equipes médicas, direção e servidores. Segundo o parlamentar, há problemas estruturais e tecnológicos que comprometem diagnósticos e continuidade do atendimento. “Falta prontuário eletrônico, faltam protocolos claros e treinamento permanente. Às vezes o profissional faz o possível, mas o sistema não o ajuda”, observou.
Ele defende que a Câmara de Vereadores, a Assembleia Legislativa, o Executivo municipal e o Governo do Estado formem um grupo de trabalho conjunto para revisar fluxos e padrões de atendimento. “É preciso construir soluções integradas, porque o problema não é de um prédio, é de uma rede inteira. Tecnologia, motivação e condições dignas de trabalho precisam caminhar juntas”, afirmou.
O vereador também resgatou uma lição aprendida na prática da psicologia clínica: “A clínica é soberana. O olhar humano, técnico e atento de quem está na ponta salva vidas. Quando esse olhar se perde em meio à sobrecarga e à desorganização, a tragédia acontece.”
A Comissão de Saúde da Câmara deve protocolar requerimentos formais pedindo relatórios sobre protocolos de atendimento, escalas de plantão, tempo médio de resposta em emergências obstétricas e planos de melhoria para as unidades da capital. “O que a sociedade espera de nós é seriedade e compromisso. É o mínimo diante de uma dor tão grande”, concluiu João Paulo.
