Saúde pública em risco
A Câmara Municipal de Rio Branco promoveu, na manhã de terça-feira, 24, uma Tribuna Popular no qual debateu os riscos da transmissão de zoonoses por animais errantes — aqueles que vivem nas ruas, sem tutela. A sessão foi proposta pelo vereador Aiache (PP) e contou com a participação do médico veterinário José Nelson dos Santos Moraes Neto, que apresentou um diagnóstico técnico e contundente sobre a relação entre abandono animal, doenças infecciosas e omissão do poder público.
Na oportunidade, o vereador Aiache reforçou a importância de estruturar políticas públicas voltadas à causa animal, como a criação de um hospital veterinário público e parcerias com organizações da sociedade civil. “A porta desta Casa está aberta para acolher projetos, cobrar efetividade e dar voz a quem defende essa bandeira com responsabilidade”, concluiu.
Segundo o especialista, as zoonoses são doenças que podem ser transmitidas dos animais para os humanos e vice-versa. “Esses animais errantes, principalmente cães e gatos, podem ser reservatórios silenciosos de agentes patogênicos. Mesmo sem sintomas, podem carregar e disseminar doenças sérias como a raiva, a toxoplasmose, verminoses, doença de Chagas e a chamada ‘doença da paca’, que tem se espalhado na região amazônica”, explicou.
O veterinário destacou que, apesar de o abandono de animais ser considerado crime ambiental desde 1998, a prática continua crescente, especialmente em centros urbanos. “Muitas vezes, o abandono ocorre por desconhecimento do risco real. Não é só questão de pena ou de compaixão. Estamos falando de saúde pública e de um ciclo de transmissão que atinge, principalmente, populações vulneráveis — crianças, idosos e moradores em situação de rua.”
Saúde única
O profissional, na ocasião, defendeu o conceito de “saúde única”, que prega a integração entre saúde humana, saúde animal e meio ambiente. “Não adianta tratar a doença de forma isolada. Se o ambiente continua contaminado, se os animais continuam abandonados e se as pessoas não têm acesso à informação e a saneamento, o ciclo da doença se perpetua”, alertou.
Nelson também chamou atenção para a função do Centro de Controle de Zoonoses, que é parte do SUS e atua com vigilância epidemiológica. “É importante entender que o CCZ não é hospital veterinário. Animais que não apresentam risco sanitário devem ser atendidos por estruturas ligadas ao meio ambiente, conforme determina a Portaria 1.138 de 2014.”