EDITORIAL
O que mais choca nesse caso não é apenas a brutalidade. É a resposta branda da Justiça diante de tamanha crueldade. Um cavalo teve as quatro patas cortadas com um facão. Quatro. Não uma, não duas. Quatro. Um ato de violência covarde, bárbara, cometido em Bananal, interior de São Paulo, por um jovem de 21 anos que, pasmem, está solto.
O animal estava exausto. Participava de uma cavalgada, dessas que se vendem como tradição, mas muitas vezes são apenas palco de vaidade humana montada em sofrimento alheio. O cavalo parou, deitou, não aguentava mais. E por isso, por não suportar mais a dor, a carga, o calor e o peso, foi mutilado até a morte. Como resposta, o responsável pagou fiança, assinou uns papéis, e voltou pra casa.
Simples assim!
Enquanto isso, o país que se emociona com vídeos de gatinhos na internet, que aplaude campanhas de adoção, e que se autoproclama amante dos animais, permanece refém de uma legislação frouxa, que não enxerga na dor dos inocentes um crime à altura da sua monstruosidade. A Lei de Crimes Ambientais prevê pena para maus-tratos, mas na prática, o que se vê é impunidade. Um cavalo morre com as patas arrancadas e o autor vai dormir no próprio travesseiro na mesma noite.
Não é só o cavalo que foi violentado. É a nossa capacidade de indignação. E mais do que isso: é o senso de justiça que está sendo pisoteado. Quando um ser indefeso é torturado e morto e não há consequência real, a mensagem é clara — aqui, a vida vale pouco. Vale menos ainda se não souber gritar.
Mas a sociedade gritou. Não é exagero. É empatia. É desespero de ver que a barbárie foi registrada, documentada, denunciada… e mesmo assim, nada aconteceu.
Esse caso não pode cair no esquecimento. Que sirva de marco para que se encare de frente a falência moral de um sistema que não protege nem os inocentes de quatro patas. Porque onde a Justiça falha, a barbárie se fortalece. E onde a crueldade passa impune, a humanidade adoece.
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