Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O trabalho mediado por aplicativos de transporte e entrega se consolidou como uma das principais portas de entrada para brasileiros que buscam renda. Dados divulgados nesta sexta-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2022 e 2024, o número de trabalhadores que dependem dessas plataformas cresceu 25,4%, passando de 1,3 milhão para quase 1,7 milhão de pessoas em todo o país.
O levantamento integra o módulo experimental da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre trabalho por plataformas digitais, realizado em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho.
O avanço do setor é explicado, segundo o analista do IBGE, Gustavo Fontes, pela flexibilidade de horários e pela possibilidade de complementar a renda em um contexto de mercado de trabalho ainda marcado pela informalidade. A pesquisa mostra que 71,1% dos trabalhadores plataformizados não possuem vínculo formal. Entre os ocupados em geral, o índice é de 44,3%. “Essa possibilidade de escolher os dias, a jornada e o local de trabalho é um fator que atrai muita gente”, destacou Fontes.
O levantamento revela que o transporte particular de passageiros é a principal atividade dos trabalhadores por aplicativo, concentrando 53,1% do total. Em seguida vêm as entregas de comida e produtos (29,3%) e a prestação de serviços profissionais e gerais, como manutenção, design e telemedicina (17,8%). A maioria desses trabalhadores, 83,9%, é formada por homens, especialmente nas funções que envolvem direção e entrega em motocicletas. A faixa etária predominante está entre 25 e 39 anos, e seis em cada dez têm ensino médio completo ou superior incompleto.
A distribuição regional mostra que o Sudeste concentra 53,7% dos trabalhadores plataformizados, seguido do Nordeste (17,7%), Sul (12,1%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7,5%). Ainda que a participação da Região Norte seja menor em termos absolutos, o fenômeno vem crescendo de forma acelerada nas capitais amazônicas, impulsionado pela expansão dos aplicativos de transporte e delivery em cidades médias.
Tendência estadual
No Acre, a tendência acompanha o cenário nacional. Estimativas baseadas na participação do estado na força de trabalho nortista indicam que entre 7 mil e 8 mil acreanos têm nos aplicativos sua principal fonte de renda. Em Rio Branco, a presença de motociclistas de delivery e motoristas de transporte particular tornou-se parte do cotidiano urbano, especialmente após a pandemia, quando o número de trabalhadores autônomos cresceu de forma expressiva. A maioria atua como conta própria, sem registro formal, e depende de plataformas como 99, InDriver e iFood para garantir o sustento mensal.
A realidade local repete o perfil nacional: homens jovens, com ensino médio completo, inseridos em um mercado cada vez mais competitivo e vulnerável. As mulheres representam menos de 20% desse contingente, concentradas em áreas de entrega de alimentação e serviços de beleza. A alta informalidade, a falta de proteção previdenciária e a ausência de representação sindical são os principais desafios para o segmento, que ainda aguarda definições sobre a regulamentação da atividade.
O tema é alvo de debate no Supremo Tribunal Federal (STF), que deverá julgar em novembro se há vínculo empregatício entre as plataformas e os motoristas ou entregadores. Enquanto empresas e a Procuradoria-Geral da República defendem a autonomia dos trabalhadores, sindicatos e associações alertam para a precarização das condições de trabalho. Até que a decisão seja tomada, milhões de brasileiros continuam trafegando entre a liberdade e a insegurança de um modelo que redefine o conceito de emprego no país — inclusive nas ruas de Rio Branco.
