Entre 2016 e 2025, beneficiários já falecidos seguiram recebendo recursos de programas como Bolsa Família, aposentadorias e pensões.
Uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que o Brasil destinou indevidamente cerca de R$ 4,4 bilhões a 275,8 mil pessoas já falecidas, entre os anos de 2016 e 2025. A descoberta escancara falhas graves na atualização e no cruzamento de dados do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (Sirc), que deveria impedir pagamentos após a morte dos beneficiários.
O relatório aponta que apenas em uma das últimas competências analisadas, aproximadamente R$ 28,5 milhões por mês continuavam sendo pagos a pessoas mortas, evidenciando uma continuidade sistêmica do problema.
O prejuízo se refere a uma série de benefícios, como Bolsa Família, aposentadorias, pensões, auxílios trabalhistas e pagamentos a servidores públicos ativos, inativos ou pensionistas. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por exemplo, usa o Sirc para cancelar benefícios após a morte do segurado. No entanto, o TCU apontou falhas estruturais que comprometem a confiabilidade do sistema e favorecem fraudes ou atrasos no cancelamento.
Criado em 2014, o Sirc deveria garantir transparência e eficiência na gestão pública, ao centralizar dados de nascimentos, casamentos e óbitos em todo o território nacional. Contudo, a fragilidade na integração com bancos de dados de órgãos como cartórios, prefeituras e ministérios levou ao pagamento indevido de bilhões de reais.
A constatação levanta preocupações não apenas sobre a governança dos sistemas federais, mas também sobre os mecanismos de controle e auditoria do uso do dinheiro público.