O paradoxo que pode estourar no bolso do rio‑branquense
A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTRANS) calcula que, para cada passageiro que embarca em um ônibus urbano em Rio Branco, o gasto efetivo é de R$ 6,03 entre diesel, salários, pneus, peças e depreciação. O usuário, porém, paga apenas R$ 3,50 — a menor tarifa entre as capitais brasileiras e congelada desde julho de 2022. A diferença de R$ 2,53 sai direto do Tesouro municipal na forma de subsídio.
Dados apontam que 50 mil viagens por dia × R$ 2,53 de subvenção = R$ 126,5 mil diários. Ao longo de um ano, o rombo supera R$ 46 milhões — valor que equivale a 9 % de toda a receita própria prevista para 2025.
E o montante não para de crescer. Só para a operadora Ricco Transportes, a Prefeitura já desembolsou R$ 95 milhões desde 2022, sem contar gratuidades como idosos e estudantes, pagas à parte.
Por que o custo disparou?
– Combustível: o litro do diesel subiu 11 % nos últimos doze meses, com cenário de petróleo instável;
– Folha de pagamento: piso dos rodoviários reajustado em 9,2 % após dissídio de 2024;
– Frota antiga: 41 % dos 105 ônibus têm mais de 10 anos; média nacional é de 7,7 anos;
– Demanda em queda: passageiros diários caíram de 96 mil em 2012 para 50 mil em 2024; custo fixo dilui‑se em menos bilhetes.
Cenários para 2025 — e nenhum é indolor
Opção Tarifa estimada Impacto no usuário Obstáculos
– Mantém tarifa & amplia subsídio: a tarifa estimada é de R$ 3,50, sem nenhum reajuste e não causando impactos no bolso dos usuários do transporte público. O maior obstáculo é furar o teto de gastos municipais; exige novo aporte de R$ 20 mi/ano.
– Reajuste parcial: tarifa estimada em R$ 4,50, um impacto de +R$ 1,00 no bolso do consumidor. Alívio de 40 % no subsídio, mas tarifa ainda abaixo do custo;
– Tarifa técnica: custo de R$ 6,03, o que representa +72 % de aumento. Politicamente inviável em ano pré‑eleitoral;
– Licitação + BRT leve: viagens mais rápidas; tarifa em R$ 4,80 e demanda de R$ 300 mi em obras e três anos de implantação
“O subsídio virou surto de endividamento. Ou rediscutimos o modelo — licitação, frota elétrica, corredor exclusivo — ou a bomba estoura até 2026”, avalia o economista Cláudio Okada, consultor da ANTP.
O que diz cada ator
– RBTRANS – Defende tarifa social mantida “até que nova licitação equilibre custos”.
– Prefeitura – Estuda enviar projeto de lei para ampliar subsídio até 2027, condicionando‑o à renovação de 30 % da frota com ônibus Euro VI.
– Sindicato dos Rodoviários – Ameaça paralisação se subsídio atrasar; quer gatilho de reajuste automático.
– Usuários – Reclamam de intervalos de até 40 min e carros sem ar‑condicionado mesmo em novos articulados.