O Acre abriga espécies únicas de abelhas nativas, muitas delas desconhecidas até mesmo por pesquisadores. Sem políticas de proteção, elas correm risco de extinção antes mesmo de serem reconhecidas pela ciência e pela sociedade.
Elas não fazem barulho. São pequenas, discretas e vitais para o equilíbrio da floresta. As abelhas nativas do Acre, muitas delas sem ferrão, desempenham um papel essencial na polinização de frutas, árvores e plantas da Amazônia. No entanto, seguem invisíveis para as políticas públicas, para a ciência e para a maioria dos acreanos.
Durante sua fala na Expoacre 2025, o apicultor e mobilizador Hamilton Hosbach fez um alerta comovente: “temos abelhas que só existem no nosso estado. Isso está registrado. E se não agirmos rápido, elas vão desaparecer sem deixar rastros”.
As chamadas abelhas nativas sem ferrão — como a jandaíra, a uruçu-amarela, a canudo e a tiúba — vivem em equilíbrio com a floresta e têm alto valor ecológico e econômico. Algumas produzem um mel raro, medicinal, altamente valorizado fora do Brasil. Mas o desconhecimento e a falta de incentivo à meliponicultura — cultivo de abelhas nativas — fazem com que esse potencial continue inexplorado.
O problema não é apenas ambiental. É cultural. As escolas não ensinam sobre essas espécies. A população urbana pouco sabe sobre seu papel. E os próprios filhos de produtores rurais estão crescendo distantes de um conhecimento ancestral, que sempre fez parte da vida no campo.
Hamilton cita um exemplo emblemático: a GEAMP, escola de pedagogia da alternância localizada no interior do Acre, que trabalha diretamente com filhos de produtores. “Ali é o lugar perfeito para desenvolver projetos de meliponicultura, ensinar as crianças, integrar ciência e tradição. Mas falta apoio.”
Além do risco de extinção, há o risco da irrelevância. Sem visibilidade, essas abelhas somem dos debates ambientais e das propostas econômicas — mesmo sendo fundamentais para o futuro da bioeconomia.