Na contramão de outros setores que caminham lentamente para a modernização, a indústria ceramista do Acre começa a dar passos firmes rumo à inovação. Novos fornos, redução de perdas no processo produtivo e ganho de eficiência indicam um cenário promissor. Mas o avanço tecnológico encontra barreiras graves: falta de profissionais capacitados para operar os novos equipamentos, alto custo das tecnologias e insegurança na cadeia de insumos.
A análise é do presidente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas do Acre, Márcio Agiolfi, que concedeu entrevista exclusiva ao Correio OnLine durante a Expoacre 2025. Segundo ele, a modernização é realidade em parte do setor, mas está longe de ser uma conquista generalizada.
“Temos indústrias no Acre que já reduziram pela metade a perda de material durante a produção. Chegamos a perder 15% e hoje estamos na faixa de 5 a 8%. Isso só foi possível com uso de tecnologia e melhorias no processo de queima”, explica Agiolfi.
O grande problema, segundo o presidente, está na manutenção das tecnologias instaladas. Faltam técnicos especializados no estado para operar e manter os fornos modernos funcionando com eficiência. “É um avanço importante, mas incompleto. A gente ainda depende de técnicos de fora para manter os equipamentos funcionando. Isso custa caro, atrasa a produção e afasta empresas menores da inovação”, ressalta.
Essa lacuna evidencia um desafio mais amplo: formar mão de obra local qualificada para acompanhar a modernização do setor industrial.
O paradoxo do Acre: florestas em abundância, insumo em escassez
Outro gargalo estrutural é o acesso ao insumo de queima, mesmo em um estado amazônico. “É um espanto. Estamos na região mais florestal do Brasil, e mesmo assim a indústria ceramista não tem acesso estável ao seu principal insumo”, disse Agiolfi.
A dependência da madeira para os fornos torna o setor vulnerável à desaceleração da atividade madeireira. Caso haja restrições ambientais ou econômicas, a produção ceramista pode parar completamente.
Interior mais frágil: olarias isoladas e desamparadas
O cenário nas cidades do interior é ainda mais crítico. Se a capital enfrenta dificuldades com insumos e tecnologia, as olarias do interior convivem com isolamento logístico, custos operacionais elevados e ausência de apoio técnico. “A gente tenta levar capacitações, trazer especialistas e promover melhorias no processo de queima. Mas a estrutura local é muito frágil”, lamenta.
Atualmente, o Acre tem 52 indústrias cerâmicas, que empregam cerca de 3 mil pessoas direta e indiretamente. Boa parte delas atua abaixo da capacidade instalada, o que compromete o crescimento do setor.
Para enfrentar os desafios, o sindicato tem buscado apoio do Sistema FIEAC, especialmente do SENAI, onde funciona um laboratório cerâmico que realiza ensaios e testes para as indústrias. “A parceria com a FIEAC é fundamental. O SENAI nos dá suporte técnico, o SESI trabalha com saúde e segurança, e o IEL com qualificação. Mas ainda é pouco diante da necessidade que temos no setor”, pontua.
Agiolfi destaca que o sindicato está articulando a vinda de um hotshot — uma espécie de tecnologia móvel de queima — para capacitar o setor e mitigar perdas.
O futuro é a telha
Mesmo com tantos entraves, o setor aposta em um produto com potencial de exportação: a telha cerâmica. Uma indústria acreana já produz telhas com qualidade suficiente para competir com Rondônia, Amazonas e até países vizinhos como Peru e Bolívia. “É um produto mais leve, com valor agregado maior, o que torna a logística mais viável. A telha pode ser o diferencial do Acre na indústria ceramista”, afirma.