Romana, 22 anos de feira: amor, trabalho e uma tradição que fez do Manoel Julião um ‘drive-thru’ popular

Foto: Portal Correio online

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Logo cedo, antes mesmo do sol nascer, o barulho dos caixotes se mistura ao cheiro de banana madura e macaxeira fresca na ferinha do Manoel Julião. Foi nesse cenário que a equipe do Correio Online esteve para conhecer Romana — a feirante mais antiga do espaço, dona de uma banca que resiste há 22 anos e que guarda histórias que começam muito antes de sua chegada.

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“Foi minha mãe”, recorda. Sem emprego depois de ser retirada da casa de carne na Estação Experimental, a mãe fez um voto na Igreja Universal e ia todos os dias orar para que Deus abrisse uma porta. Um dia, encontrou um espaço vazio e pediu para montar uma banca de verduras. “O homem não deixava ninguém botar, mas disse: bote. E ela botou.” Da fé, nasceu o ponto que marcaria a família.

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Romana cresceu no balcão improvisado e, quando chegou sua vez, assumiu o trabalho. A rotina é puxada: o marido sai de madrugada rumo ao Ceasa, chega por volta das cinco, e a banca segue aberta até a noite. Nas prateleiras, a feira acreana em estado puro: macaxeira, folhas, tomate, açaí, ovos e queijos vindos do curral. O campeão de vendas, porém, não muda: “A banana não tem igual.”

A feira também foi palco de encontros que marcaram sua vida. “Conheci o pai do meu filho aqui. Ele vinha só pra me paquerar.” Hoje, o filho até ajuda no balcão, mas não quer seguir o ofício: “Gosta do dinheiro daqui, mas não quer”, disse Romana entre gargalhadas. Mas ele não deixa a peteca cai: “Não tem problema, ainda estou nova, vou longe ainda aqui na ferinha.”

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Entre uma venda e outra, Romana explica o segredo da clientela fiel: praticidade. “Aqui é drive-thru, né amiga? O carro para, a moto encosta, eu vou até a porta. No mercado, tem gente que desisti até de ir. Aqui não: aqui todo mundo compra e nem precisa descer do carro.”

Sobre o poder público, a resposta é direta: “É tranquilo, não atrapalhando, tá bom demais.” A única reivindicação, feita com simplicidade, é por algo básico: “Só falta a prefeitura botar o banheiro.” Enquanto isso, a improvisação dá conta: “A gente se vira, tem a farmácia ali.”

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Romana olha em volta e sorri: “O povo daqui é trabalhador. Todo mundo atende bem, é esforçado. É por isso que a nossa feira não aparece na televisão reclamando.”

Do voto da mãe ao balcão que hoje comanda, Romana é símbolo de constância e esperança. Na banca dela, a vida acontece em meio a sacolas, gargalhadas e histórias de amor — a prova de que o Manoel Julião não é só uma feira, mas um retrato vivo de fé e resistência.

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