Roberto Azevêdo alerta: Brasil precisa de alianças estratégicas para proteger o agro no novo jogo global

Foto: Reprodução

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Em palestra no 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) em parceria com a B3, ex-diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, defendeu articulação internacional do setor para enfrentar, que ele classifica como ‘protecionismo disfarçado de causas ambientais’, além de garantir que a agricultura tropical seja ouvida no cenário global.

Azevedo foi direto ao ponto: o multilateralismo que sustentou o comércio internacional por décadas está enfraquecido e não voltará ao que era. Em um cenário cada vez mais marcado por tensões geopolíticas e disputas comerciais, países priorizam seus próprios interesses e criam barreiras para proteger mercados internos. “Esse é o novo normal. As regras mudam a qualquer momento e o protecionismo ganha novas roupagens”, afirmou Azevêdo, destacando que essas barreiras muitas vezes se escondem atrás de agendas legítimas, como meio ambiente e direitos trabalhistas.

O ex-diretor citou exemplos concretos de medidas que afetam diretamente o agronegócio brasileiro, como o Mecanismo de Ajuste de Carbono da União Europeia (CBAM) e o Regulamento Europeu sobre Desmatamento (EUDR).
Segundo ele, essas políticas ignoram fatores como a matriz energética limpa do Brasil e penalizam produtores que adotam práticas sustentáveis. “Não levam em consideração que o Brasil produz com uma das matrizes mais limpas do mundo. Presume-se que todos são tão sujos quanto, o que não é verdade”, disse.

O potencial da agricultura tropical

Azevêdo defendeu também a formação de agroalianças entre países com sistemas de produção tropicais, capazes de mudar as métricas internacionais que hoje prejudicam o Brasil. Ele citou casos como a segunda e terceira safra do milho, o plantio direto e os biocombustíveis — práticas que aumentam a produtividade sem ampliar a área plantada, reduzindo a pegada de carbono. No entanto, essas vantagens não são reconhecidas nos indicadores usados globalmente. “Essas métricas nasceram em países temperados e não refletem a nossa realidade. Precisamos fazer com que o mundo reconheça o agro como solução para a segurança alimentar, energética e climática”, defendeu.

Para o ex-diretor da OMC, não basta esperar que o governo conduza toda a negociação. O setor privado precisa criar seus próprios canais de contato no exterior, com governos, associações, empresas e centros de pesquisa. “Na hora da crise, você precisa ter o telefone de quem pode ajudar. E isso só se constrói com presença e relacionamento”, alertou.

Por fim, Azevêdo deixou claro que a singularidade do agro brasileiro — alta qualidade, competitividade e escala global — é, ao mesmo tempo, força e desafio. Competidores evitam apoiar o Brasil e mercados consumidores veem o setor como ameaça. A solução, segundo ele, está na inteligência estratégica e na construção de alianças que vão além da diplomacia tradicional. “O mundo não tem solução sem o agro. Ele já é um exemplo, só não é percebido como tal.”

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