Rio Acre atinge a menor marca dos últimos dez anos e seca severa é aguardada

Foto Reprodução

O Rio Acre, que nasce no Peru, banha sete municípios do Acre e abastece toda a capital acreana, foi um dos símbolos da seca extrema que atingiu a região norte nos últimos dois verões amazônicos. Após registrar medições que deixaram os governantes em estado de alerta, estudos feitos pelo Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil apontam que a estiagem pode ser maior e ainda mais grave neste ano, comparado ao ano passado.

Em 2023, a seca severa no manancial iniciou no fim do mês de agosto, com cotas abaixo de 1,60 metro. O período de seca seguiu até o mês de novembro, atingindo a cota mínima de 1,37m e afetando mais de 17 mil pessoas com o desabastecimento de água somente na capital acreana, além de causar impactos severos em comunidades ribeirinhas e indígenas distantes.

De acordo com o tenente-coronel Cláudio Falcão, diretor da Defesa Civil Municipal, as previsões indicam que neste ano, o verão amazônico do Acre terá uma escassez hídrica ainda maior que a do ano passado. Além disso, a diminuição das chuvas tende a iniciar ainda em maio, podendo se intensificar ao passar dos meses.

Atualmente, o manancial apresenta um nível muito abaixo do normal para esta época do ano. Enquanto a média esperada seria de 5,63 metros, o Rio Acre marcou apenas 3,15 metros nesta quarta-feira, 15, na capital acreana. O manancial marcava 3,35 metros na terça-feira, 14, registrando uma diminuição de 20 centímetros em 24 horas, sendo a menor marca registrada no mês nos últimos dez anos.

A pior cota do Rio Acre foi registrada no dia 2 de outubro de 2022, quando o Rio Acre marcou 1,25 metros no mês de setembro, no que foi considerada a pior seca dos últimos 54 anos, desde o início das medições.

Em épocas de estiagem severa, os acreanos convivem com a baixa umidade, focos de calor, incêndios florestais, fumaças e altas temperaturas, o que agrava os problemas de saúde da população e problemas ambientais e econômicos do estado.

Previsões meteorológicas para o Acre

No oceano pacífico, o fenômeno La Niña se prepara para assumir o protagonismo meteorológico a partir do mês de junho, resfriando as águas do mar e prometendo trazer um aumento de chuvas na bacia amazônica, contrariando os efeitos do El Niño, que agrava a escassez de chuvas na região.

Entretanto, apesar desses fenômenos naturais serem lembrados para justificar alterações climáticas, as secas severas que atingiram toda a região amazônica nos anos anteriores tiveram sua origem nas mudanças climáticas causadas por atividades humanas como desmatamentos e queimadas, de acordo com um estudo realizado pelo World Weather Attribution (WWA), um grupo internacional de cientistas especializados em assuntos climáticos.

Sobre as previsões climáticas realizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia do Brasil, o geógrafo e professor da Universidade Federal do Acre, Anderson Mesquita, explica que no caso específico do Acre, o que pode acontecer é que neste ano, o La Niña intensifique os extremos – seca e cheia – que o estado registra historicamente.

“De modo geral, o que se tem de previsão é que o Acre terá um período mais seco do que o normal, a partir de maio, junho, até setembro, com escassez de chuvas. E se permanecer a situação do La Niña até o fim do ano, tudo indica que nós teremos a partir de outubro, novembro, especialmente a partir de dezembro, que começa o verão aqui no Hemisfério Sul, um volume de chuvas acima da média.”

Medidas a serem tomadas na Capital

Em Rio Branco, o plano de contingência realizado pela Defesa Civil de Rio Branco integra a escassez hídrica e os incêndios florestais, já que a ausência de chuva prejudica também a umidade do solo e contribui para a manutenção do clima seco, o que pode ocasionar incêndios florestais. Sobre as medidas que serão tomadas mediante as previsões, o coronel Cláudio Falcão informa:

“A ausência de chuva vai intensificar a partir de junho, mas no mês de maio já começa essa situação de exaurimento hídrico. Para isso, nós temos o plano de contingência de abastecimento de água na comunidade rural, vamos acompanhar as navegações ao longo do rio e vamos verificar o nível do rio em relação à captação de água para a comunidade urbana. E juntamente com esse plano de exaurimento hídrico, nós temos o plano de queimadas, com campanhas educativas, mapeamento dos pontos mais frágeis e também os mais perigosos de incêndios, e uma fiscalização forte para não deixar que as reincidências aconteçam. Vamos utilizar também a parte repressiva para que não tenha queimadas, para não piorar a situação do clima e também da saúde humana.”

As medidas foram criadas para evitar o desabastecimento de água nas residências acreanas, o aumento de doenças respiratórias de crianças e idosos na cidade, o prejuízo econômico para agricultores e o isolamento de comunidades indígenas e ribeirinhas, que sofrem com a navegação inviável em muitos trechos do rio.

No ano passado, o plano da Defesa Civil de Rio Branco atuou entre os meses de julho a dezembro e atendeu mais de 27 comunidades afetadas pela seca do manancial, nas zonas urbana e rural da capital acreana. Segundo o órgão, mais de 17 mil pessoas foram afetadas diretamente pela estiagem. Neste ano, a estimativa é que o plano de contingência englobe um número ainda maior.

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