Americano de perfil reservado, Prevost tem trajetória internacional e assume o papado em meio a expectativas por equilíbrio entre tradição e reformas
O Vaticano anunciou oficialmente nesta quinta-feira (9) a eleição do cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, como novo Papa da Igreja Católica. Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, Prevost rompe a tradição histórica que desfavorecia papáveis norte-americanos e assume o posto máximo da Igreja com um perfil descrito como reservado, pastoral e internacionalista.
Poliglota, com fluência em espanhol e italiano, Prevost passou mais de duas décadas no Peru, onde atuou como missionário, bispo e se naturalizou cidadão peruano. Posteriormente, liderou mundialmente a Ordem de Santo Agostinho e, mais recentemente, comandava um dos escritórios mais estratégicos da Cúria Romana: o Dicastério para os Bispos, responsável por nomeações episcopais no mundo todo.
Um “pontífice de meio-termo”
A eleição de Prevost surge em um momento de tensão dentro da Igreja, com correntes divididas entre a continuidade da agenda inclusiva do Papa Francisco e setores que defendem um retorno a posições mais conservadoras. Para muitos, o novo Papa representa uma figura de equilíbrio.
“O meio-termo digno”, assim o define o padre Michele Falcone, seu ex-colega e amigo. Prevost tem demonstrado afinidade com os valores de proximidade aos pobres e migrantes — marcas do pontificado anterior — mas com estilo mais discreto e menos midiático. “O bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino”, declarou ele em entrevista ao site do Vaticano no ano passado.
Formação, liderança e posicionamentos
Prevost foi ordenado sacerdote em 1982, aos 27 anos, e tem doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Roma. Sua atuação missionária no Peru incluiu atividades como pároco, professor e bispo da cidade de Chiclayo.
Apesar do reconhecimento por seu trabalho com comunidades carentes e imigrantes, Prevost também enfrenta críticas. Durante sua gestão no Peru, foi acusado de falhas na condução de casos de padres denunciados por abuso sexual. Embora tenha iniciado investigações, opositores afirmam que as medidas foram insuficientes — algo que seus aliados consideram parte de uma campanha de difamação ligada a interesses internos na Igreja local.
Nos Estados Unidos, ativistas o acusam de ter aprovado a transferência de um padre investigado por abusos a um mosteiro próximo a uma escola católica, nos anos 2000, quando liderava os agostinianos no Meio-Oeste americano.
Em temas como identidade de gênero e homossexualidade, Prevost adota uma abordagem mais rígida. Em discursos anteriores, expressou críticas à “ideologia de gênero” e à aceitação de “famílias alternativas”, em contraste com a frase histórica de Francisco: “Quem sou eu para julgar?”
Um pontificado cercado de expectativas
Analistas acreditam que sua longa experiência fora dos Estados Unidos e sua trajetória dentro da estrutura do Vaticano foram determinantes para sua eleição. “Se ele não fosse americano, já seria considerado automaticamente um papável”, afirmou o vaticanista Marco Politi.
Agora, com a fumaça branca anunciando sua escolha, o mundo volta os olhos para o novo líder espiritual de mais de 1,3 bilhão de católicos. Resta saber qual será o tom do seu pontificado: continuidade, moderação ou ruptura.
Com informações O Globo