Municípios do Juruá concentram maior número de focos; especialistas pedem ações preventivas antes do verão amazônico
O Acre registrou um aumento expressivo no número de focos de queimadas nos primeiros três meses de 2025. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), compilados pelo painel de monitoramento do Instituto Terra Brasilis, o estado teve 40 focos de incêndio entre janeiro e março, contra 22 no mesmo período do ano passado — uma alta de 81,8%.
O crescimento acende um sinal de alerta entre ambientalistas e autoridades locais, especialmente considerando que o período mais crítico das queimadas, o verão amazônico, ainda não começou. A temporada seca no Acre costuma se intensificar entre julho e setembro, quando as queimadas atingem picos históricos e o ar se torna praticamente irrespirável em várias cidades.
Interior concentra focos
Rodrigues Alves, no Vale do Juruá, lidera o ranking de 2025 com 12 focos registrados no primeiro trimestre — o triplo do que havia sido anotado no ano passado, quando o município teve 5 ocorrências. Em segundo lugar aparece Tarauacá, com 9 focos, um aumento de 350% em relação a 2024, quando foram registrados apenas 2 casos.
Cruzeiro do Sul, que liderava as estatísticas no mesmo período do ano anterior com 5 focos, agora soma 8 ocorrências. Já Mâncio Lima dobrou os registros, passando de 2 para 4 focos. No sentido oposto, Brasiléia reduziu os casos de 4 para apenas 1 neste ano.
Municípios que não haviam apresentado queimadas em 2024 passaram a registrar focos em 2025. É o caso de Bujari, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Sena Madureira, todos com uma ocorrência registrada entre janeiro e março.
Tendência de alta
O avanço dos focos neste início de ano preocupa devido à tendência já verificada em 2024, quando o Acre encerrou o ano com 8.658 focos de queimadas — aumento de 31% em relação a 2023, que teve 6.562 focos. Durante o período mais crítico do ano passado, o céu ficou encoberto por fumaça por vários dias, afetando a qualidade do ar e provocando internações por problemas respiratórios.
“Estamos diante de um cenário preocupante. O aumento fora da temporada de seca indica que as queimadas estão se tornando mais constantes e menos sazonais. Isso exige ações mais firmes de prevenção e fiscalização”, avalia a engenheira florestal Maria Clara Silva, especialista em monitoramento ambiental.
Impactos e prevenção
Além dos danos à saúde pública e ao meio ambiente, as queimadas prejudicam a agricultura familiar, causam perda de biodiversidade e aumentam o risco de eventos extremos, como a estiagem prolongada. O governo do estado e os municípios ainda não anunciaram novas medidas de contenção para o ano de 2025.
Especialistas defendem a intensificação de campanhas educativas e o fortalecimento da atuação de brigadas florestais antes do auge da seca. “Prevenir é muito mais barato e eficiente do que combater o fogo depois que ele se espalha”, alerta a pesquisadora.
Com o avanço dos focos ainda no primeiro trimestre, o Acre se vê diante do desafio de conter os incêndios antes que o problema se agrave nos meses mais quentes. O monitoramento por satélite continuará sendo uma das principais ferramentas para acompanhar a situação e orientar estratégias de resposta rápida.