EDITORIAL
Os 200 profissionais da saúde que estão sendo demitidos neste mês pelo Governo do Estado representam mais do que números frios em uma folha de desligamento. Representam vozes que consolaram, mãos que cuidaram e corações que, mesmo diante do medo, enfrentaram uma pandemia sem saber se voltariam vivos para casa. Representam pais e mães que não recuaram quando o caos tomou conta dos hospitais.
Agora, são os mesmos profissionais que estão sendo empurrados para fora do sistema de saúde de forma silenciosa, como se nunca tivessem existido. Muitos deles perderam familiares enquanto estavam em plantão, enfrentaram crises de saúde mental e carregam no corpo e na alma as cicatrizes de uma guerra invisível. E tudo isso para serem substituídos de maneira abrupta, sem qualquer acolhimento digno, por profissionais recém-chegados, ainda sem experiência de campo.
Não se trata aqui de negar o direito dos aprovados em concurso — que são, sim, bem-vindos e necessários. Mas é inaceitável que o Estado trate a transição como um processo administrativo qualquer, ignorando que a saúde pública é feita por gente para cuidar de gente. É preciso tempo, planejamento e, acima de tudo, respeito por quem sustentou o sistema em seu pior momento.
A decisão de desligar em massa esses profissionais sem garantir a devida transição, sem treinamento dos novos, e sem reconhecimento mínimo pelo serviço prestado, escancara uma gestão descompassada com o que prega em seus discursos públicos. Se, durante a pandemia, os trabalhadores foram chamados de heróis, por que agora são tratados como descartáveis?
O Correio OnLine se soma ao apelo dos sindicatos, dos parlamentares atentos ao drama humano por trás desses números, e de cada profissional que clama por um olhar mais sensível. Não se constrói um serviço público de qualidade com desrespeito. E não se edifica uma sociedade justa quando se joga fora quem foi essencial no momento mais sombrio da nossa história recente.
Que o governo do Acre reveja sua postura, adote uma transição técnica, gradual e respeitosa — e que jamais se esqueça que a memória de um povo também se faz de gratidão.