ARTIGO
Num país acostumado a ver recursos irem embora, o que mais surpreende é quando eles voltam para onde fazem diferença. É isso que o Fundo Social do Sicredi Biomas tem feito no Acre em 2025 — e talvez por isso o impacto seja tão silencioso quanto valioso. Em um estado onde se fala tanto em bioeconomia, floresta em pé e desenvolvimento sustentável, poucos instrumentos são tão diretos quanto o fundo que transforma poupança cooperada em ação comunitária concreta.
Estamos falando de um modelo em que parte do lucro do sistema cooperativo retorna à base, na forma de apoio a projetos sociais, ambientais e educacionais. Mas o que parece uma prática comum nos discursos institucionais, ganha contorno de exceção quando observado no chão da floresta.
O Sicredi Biomas, ao contrário de tantos atores financeiros que operam de fora para dentro, atua enraizado no território. O Fundo Social 2025 já apoiou dezenas de iniciativas locais no Acre — de hortas escolares a associações de mulheres extrativistas, passando por ações educativas em comunidades rurais, projetos de recuperação de nascentes e capacitações em educação financeira.
Quando cooperar significa reflorestar
Num momento em que o Acre lidera a perda proporcional de floresta primária no Brasil, como apontou a Global Forest Watch, o fortalecimento das redes comunitárias e das economias locais ganha ainda mais peso. Porque a floresta não se preserva com discurso, mas com alternativa econômica real. E não há floresta de pé se o povo do entorno está de joelhos, sem acesso ao mínimo.
Cada real destinado por esse fundo social gera uma cadeia que rompe a lógica do assistencialismo e propõe caminhos sustentáveis de autonomia, protagonismo local e conexão com o bioma. A grande lição do modelo cooperativista é que não existe desenvolvimento se ele não for coletivo.
Riqueza que gira e permanece
Outro ponto que diferencia o Sicredi Biomas é a lógica de circularidade. O dinheiro não chega via edital esporádico, não depende de governo, nem precisa de padrinho político. Ele vem da própria comunidade cooperada e volta para ela, gerando vínculos de pertencimento e corresponsabilidade.
Num Acre onde o poder público é, muitas vezes, o único ator em campo, experiências como essa mostram que é possível desenvolver um outro tipo de economia — mais silenciosa, menos dependente, e ainda assim profundamente transformadora.
O que esse fundo nos ensina?
Que talvez o caminho para proteger a floresta e fortalecer a Amazônia não esteja só nos grandes acordos internacionais nem nas promessas de fundos multilaterais que nunca chegam. Às vezes, está no que a comunidade já sabe fazer há gerações: cooperar, repartir, resistir e cuidar.
O Fundo Social do Sicredi Biomas não é uma salvação. Mas é, sim, um sinal de que o futuro pode ser mais justo, mais enraizado e menos concentrado.
Marcela Jansen é Jornalista, colunista política, assessora de Comunicação, editora-chefe e sócia proprietária do jornal O Correio e site Correio OnLine. Advogada na M|J Advogada Associada, pós-graduanda em Direito Eleitoral, Direito e Processo Penal.