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Enquanto o Brasil exibe uma renda média per capita de R$ 2.069, o Acre permanece com apenas R$ 1.271 por pessoa. A diferença de 38% revela muito mais do que um descompasso estatístico — expõe um abismo histórico, econômico e estrutural que separa o estado do restante do país e escancara o desafio de transformar crescimento em prosperidade real.
O dado, divulgado pelo levantamento nacional de 2024, mostra que o Acre figura entre os cinco estados com menor renda média domiciliar do Brasil. Mesmo dentro da Região Norte, o estado aparece atrás de vizinhos como Rondônia (R$ 1.717) e Roraima (R$ 1.538), ficando à frente apenas do Amazonas (R$ 1.238) e do Maranhão, que registra a pior média nacional (R$ 1.077).
A desigualdade é evidente. O Distrito Federal, por exemplo, lidera o ranking com R$ 3.444 de renda per capita, mais que o triplo da realidade acreana. Já em estados do Sul e Sudeste, como São Paulo e Santa Catarina, a média ultrapassa os R$ 2.600 mensais.
A estrutura econômica do Acre ainda é marcada por heranças extrativistas e forte dependência do setor público. De acordo com dados do IBGE, o setor de serviços representa quase 70% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, seguido pela agropecuária, que nos últimos anos tem se mostrado o motor mais dinâmico da economia. Mesmo assim, o avanço produtivo ainda não se converteu em melhoria significativa na renda das famílias.
Nos últimos seis anos, a produção agrícola cresceu mais de 100%, impulsionada por culturas como café, milho, banana e mandioca. Em 2022, o PIB do Acre registrou alta de 6%, puxado pelo agronegócio e pela construção civil. Ainda assim, o impacto sobre o bolso dos trabalhadores continua limitado, refletindo gargalos em infraestrutura, logística e acesso a crédito — fatores que encarecem a vida e freiam o desenvolvimento.
Além dos obstáculos econômicos, há desafios sociais profundos. O Acre apresenta uma das maiores taxas de informalidade do país, com cerca de 60% da população ativa sem carteira assinada. Isso significa que boa parte dos acreanos sobrevive com rendas instáveis e sem acesso a benefícios trabalhistas, o que contribui para a manutenção do baixo rendimento médio.
Mesmo diante desse cenário, o estado tem apresentado sinais tímidos de melhora. Entre 2022 e 2024, a renda per capita cresceu cerca de 12,5%, alcançando o maior patamar da série histórica local. O governo aposta na diversificação econômica, especialmente na bioeconomia e na valorização de cadeias produtivas sustentáveis, como a do café robusta amazônico, da castanha e do mel.
Especialistas alertam, no entanto, que o desafio vai além do crescimento pontual. É preciso transformar o desenvolvimento econômico em melhoria de vida concreta — com políticas públicas duradouras, infraestrutura sólida, educação técnica e incentivo ao empreendedorismo local.
Enquanto o Brasil celebra indicadores nacionais que parecem promissores, o Acre continua sendo um retrato de contrastes. Num país que fala em média de R$ 2.069 por pessoa, o trabalhador acreano ainda vive com R$ 1.271 — um número que diz muito sobre a distância entre as promessas do desenvolvimento e a realidade amazônica.