Quando a floresta tomba e o governo se ergue em discurso

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ARTIGO

Na semana em que se celebra o meio ambiente, os discursos se multiplicam — embalados por promessas de futuro sustentável, metas ousadas e declarações de amor à Amazônia. Mas a realidade da floresta revela outro enredo: enquanto o governo fala, a mata cai.

Os dados mais recentes não deixam margem para dúvida. O Acre é hoje um dos estados que mais perdem floresta primária proporcionalmente no Brasil. O desmatamento avança, mês a mês, de forma constante. Entre 2023 e 2024, a destruição cresceu mais de 30%, enquanto estados vizinhos recuaram. Em 2025, seguimos com médias mensais de 1 a 2% da devastação de toda a Amazônia Legal — o suficiente para comprometer áreas inteiras de conservação e pressionar comunidades tradicionais.

O contraste entre o discurso e os fatos é chocante. A cada nova conferência climática, o estado é apresentado como pioneiro em sustentabilidade. Mas o orçamento destinado à fiscalização ambiental encolhe, os programas de reflorestamento emperram e as metas anunciadas ficam no papel.

Enquanto isso, o solo fica mais exposto, os rios mais instáveis e as cidades mais vulneráveis. A floresta perde sua força de regulação, e a população sente os impactos: cheias mais violentas, estiagens mais longas, colapso no abastecimento de água, aumento de doenças respiratórias e desassistência nas zonas rurais e periféricas.

É preciso reconhecer que não há liderança ambiental sem coerência. Não se pode prometer reflorestamento enquanto áreas protegidas desaparecem. Não é possível falar em proteção climática ignorando o avanço da grilagem, do gado ilegal e das queimadas criminosas.

A floresta não é um símbolo em um discurso. Ela é vida concreta. É sistema de segurança hídrica, alimentar, cultural. Deixá-la tombar enquanto se sustenta um marketing verde é agir com cinismo diante de um colapso anunciado.

Chegou a hora de virar a página do autoengano institucional. De cobrar menos falas bonitas e mais políticas concretas. De exigir que os recursos públicos saiam dos gabinetes e cheguem onde a floresta vive — ou tenta sobreviver.

Porque enquanto a política performa, a floresta tomba. E quem paga por isso não é o futuro: é o presente, que já arde.

 

 

Marcela Jansen é Jornalista, colunista política, assessora de Comunicação, editora-chefe e sócia proprietária do jornal O Correio e site Correio OnLine. Advogada na M|J Advogada Associada, pós-graduanda em Direito Eleitoral, Direito e Processo Penal.

 

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