EDITORIAL
O decreto de emergência em saúde pública no Acre, motivado pelo aumento acelerado dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), não é apenas uma resposta administrativa a um surto viral. É o reflexo de um sistema de saúde que ainda opera entre a precariedade e a improvisação — e que, ano após ano, repete os mesmos erros, com consequências cada vez mais graves.
Não é de hoje que se sabe: os períodos de maior circulação viral — especialmente entre o outono e o inverno amazônico — exigem planejamento, ampliação de rede e vigilância constante. Mesmo assim, o poder público insiste em agir só depois da explosão de casos, quando a superlotação dos hospitais já se tornou manchete, e mães aflitas disputam vaga em UTI infantil como se fosse sorteio.
A rede pública de saúde no Acre revela, mais uma vez, sua vulnerabilidade crônica. Faltam leitos, faltam profissionais, faltam protocolos que funcionem antes do caos. A expansão emergencial de UTIs pediátricas, como a que ocorreu no Hospital da Criança em Rio Branco, é importante, mas está longe de ser suficiente. É reação, não prevenção.
A crise atual atinge com brutalidade as crianças e os idosos — os mais frágeis e, ironicamente, os mais esquecidos nas planilhas orçamentárias. O vírus sincicial, a Influenza A, o rinovírus e a própria Covid-19 são conhecidos dos gestores públicos. Não são inimigos invisíveis. São epidemias previsíveis. E quando o previsível não é enfrentado com preparo, a culpa não é da doença — é da negligência.
É preciso reconhecer o esforço de profissionais da saúde, que seguem atuando na ponta, mesmo com jornadas esgotadas e estrutura limitada. Mas também é hora de cobrar responsabilidade dos gestores: não se governa um estado à base de decretos emergenciais. Saúde pública exige planejamento contínuo, escuta técnica e prioridade real nas políticas públicas.
Não se pode normalizar uma realidade onde vagas em UTI infantil só aparecem após tragédias anunciadas. A vida de uma criança não pode depender de improviso.