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Deputados do PT e do PSOL articulam nos bastidores um acordo para tentar evitar a cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), recomendada pelo Conselho de Ética da Câmara na última semana. A estratégia busca trocar a pena de perda de mandato por uma punição mais branda, como advertência ou suspensão, mas enfrenta forte resistência do centrão, grupo majoritário na Casa.
A recomendação de cassação, aprovada por 13 votos a 5, tem como base a agressão física cometida por Glauber em abril de 2023, quando o parlamentar expulsou com chutes e empurrões um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) das dependências da Câmara.
Desde o início da semana, Glauber está em greve de fome, ingerindo apenas líquidos, e acampado em um dos plenários da Casa. O gesto é um protesto contra a decisão do conselho.
A votação no plenário ainda não tem data marcada, mas será aberta e nominal, exigindo maioria absoluta (257 votos) para confirmação da cassação. Um precedente criado sob a gestão de Arthur Lira permite a votação de uma emenda alternativa antes do relatório do conselho, o que abre espaço para uma solução intermediária.
Apesar disso, não há consenso para aliviar a pena de Glauber. O parlamentar tem histórico de embates com o centrão e com o próprio Lira, a quem já chamou publicamente de “bandido”, além de ser crítico do modelo de distribuição de emendas parlamentares.
Aliados do governo, incluindo ministros de Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já manifestaram apoio público ao deputado do PSOL. Gleisi, que visitou Glauber no plenário, classificou a decisão como “injusta e desproporcional”. Nos bastidores, há expectativa de que ela entre em campo para negociar com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A pressão sobre o governo é sensível. Envolver-se diretamente no caso pode ser interpretado como interferência nas prerrogativas do Legislativo — o que líderes do centrão já sinalizaram não aceitar.
O PSOL deve entrar com recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), alegando que o relatório aprovado no Conselho de Ética foi baseado no histórico político de Glauber e não exclusivamente no episódio de agressão.
Caso o plenário confirme a cassação, será a primeira vez na história da Câmara que um deputado perderá o mandato por agressão física. A suplente de Glauber é a ex-senadora Heloísa Helena (Rede-RJ), crítica do governo Lula, o que preocupa lideranças governistas. (Por Folha de S.Paulo)