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No meio da explicação sobre equações de segundo grau, a voz da cantora Beyoncé começa a ecoar pelas caixas de som da sala. O ritmo é de “Halo”, mas a letra foi adaptada para ensinar a clássica fórmula de Bhaskara. As palmas e batucadas dos alunos ajudam a compor a música — e, junto com elas, a matemática fica menos assustadora.
A cena faz parte da rotina do professor Marcos Nunes, do Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado, na zona oeste do Rio. Com 20 anos de experiência no magistério, ele aprendeu que para ensinar é preciso, antes de tudo, conquistar a atenção dos estudantes.
“Eu dou a aula normalmente, coloco a música e começo a cantar junto com a fórmula. Eles riem, se divertem e acabam aprendendo. Assim, a aula fica mais dinâmica e eles conseguem memorizar melhor”, explica.
Nunes não está sozinho nesse desafio. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) 2024, professores brasileiros gastam em média 21% do tempo de aula tentando manter a ordem. Em termos práticos, isso significa que, a cada cinco horas, mais de uma hora é usada apenas para pedir atenção e silêncio.
Além disso, 44% dos docentes afirmam ser constantemente interrompidos pelos alunos.
Para Nunes, o segredo está em adaptar a aula à realidade dos estudantes. “Eu também tive dificuldade para aprender, então entendo o ponto em que eles travam. Meu desafio é fazer o aluno com mais dificuldade compreender o conteúdo e não ficar para trás”, diz.
Com músicas, revisões e dinâmicas, ele tem conseguido bons resultados. “Quando o aluno entende e resolve as questões, ele se motiva. E quando ele se motiva, tudo muda”, afirma.
No interior do Piauí, a professora Amanda de Sousa, do Ceti Paulo Freire, encontrou na tecnologia um caminho para prender a atenção da turma. Ela ensina Inteligência artificial em uma escola pública de Guaribas, município que já foi um dos mais pobres do país.
Amanda começou sem experiência na área, mas mergulhou no tema, fez pós-graduação e hoje desenvolve aulas práticas com algoritmos e árvores de decisão.
“No início, eles não prestavam muita atenção. Mas depois começaram a se interessar. Hoje estão mais maduros no uso da IA para pesquisa e estudo. Trabalhamos também o uso ético da tecnologia”, explica.
Mesmo com apenas 25 computadores para 200 alunos, Amanda criou aulas “desplugadas”, em que os alunos simulam algoritmos usando elementos da natureza local. A experiência faz parte do Programa Piauí Inteligência Artificial, premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Entre os povos indígenas Paiter Suruí, em Cacoal (RO), o desafio é manter o interesse dos adolescentes. A coordenadora Elisângela Dell-Armelina Surui explica que os alunos mais novos vão para a escola com entusiasmo, mas a partir do ensino médio é preciso redobrar os esforços.
“Os pequenos chegam primeiro que o professor. Já os adolescentes precisam de mais incentivo”, conta.
Além das dificuldades típicas da adolescência, há o risco de afastamento da cultura e da língua materna quando os jovens vão estudar fora da aldeia. A tecnologia, que pode ser distração, também tem servido como ponte para estimular o estudo. Professores indígenas usam vídeos e até ferramentas de IA para aproximar o conteúdo da realidade dos alunos — embora reconheçam que falta capacitação.
A educadora indigenista Maria do Carmo Barcellos, com mais de 50 anos de experiência, defende que aulas práticas, ligadas ao cotidiano da aldeia, são essenciais para manter o engajamento. “A criança aprende fazendo. Isso está no modo de vida tradicional. A escola precisa se conectar com isso”, explica. (Com informações Agência Brasil)
