Professora Rose Ribeiro reage a narrativa criminal atrelada aos moradores da Resex Chico Mendes

Foto Rede social

“Não dá para jogar todo mundo no mesmo saco.” A frase da professora Rose Ribeiro resume o tom de indignação de mais um desabafo publicado nas redes sociais sobre os impactos da Operação Suçuuarana, do ICMBio, na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri. Moradora da cidade e defensora dos direitos dos produtores locais, Rose reagiu com veemência a uma matéria veiculada em site local, que associou a atuação de facções criminosas à ocupação irregular na Resex — alegando que o território estaria sendo usado para lavagem de dinheiro.

Segundo ela, a narrativa veiculada desrespeita famílias que há décadas vivem e produzem dentro da reserva e que foram diretamente atingidas pela operação federal, que resultou na retirada de gado, destruição de currais e expulsão de moradores. A professora lamenta que reportagens como essa sejam publicadas sem ouvir o outro lado, sem pisar no chão da Resex, sem olhar nos olhos de quem perdeu tudo. “Tem uma criança de um ano e um mês que foi tirada da casa, um pai de família chorando, pessoas passando mal, desesperadas”, relata.

Ela afirma que não está contra as ordens judiciais, tampouco incentiva desmatamento, mas exige justiça e humanidade no tratamento aos moradores atingidos. “É covardia não separar as coisas. Não estou defendendo criminoso. Eu estou falando de gente trabalhadora. De pai que tira leite de madrugada. De quem não tem mais nem onde morar”, disse, em tom emocionado.

“Foi tudo jogado no mesmo saco”

A crítica da professora se concentra na generalização feita por parte de algumas notícias e de setores públicos. “Misturaram tudo, inverteram os papéis, jogaram todo mundo no mesmo saco. E isso é uma covardia. Tem que olhar para cada história, para cada realidade. Tem produtor com mais de 90 anos de história dentro da Resex. E foi tudo ignorado”, denunciou.

Ela lembra que a Reserva Chico Mendes foi criada em 1990, mas que as primeiras multas só começaram a ser aplicadas em 2007. Nesse intervalo, segundo moradores antigos, não houve instrução ou delimitação clara do território, o que, na prática, levou muitas famílias a permanecerem em áreas posteriormente embargadas. “Foram 17 anos sem informação, sem saber onde era a linha da reserva. E hoje jogam essas pessoas na miséria, como se fossem criminosas”, desabafa.

Impactos da Operação Suçuuarana

A operação do ICMBio, apoiada pela Força Nacional, resultou em embargos e retirada forçada de famílias. Dois casos ganharam mais visibilidade: o do senhor Gutiérrez, que teve o curral destruído, e o de Josenildo, expulso da terra com a esposa e a filha bebê, saindo de casa apenas com a roupa do corpo. Parte do gado apreendido já foi abatido.

A professora questiona os métodos: “Você é a favor do progresso? Eu também. Mas não dá pra construir o novo destruindo vidas. A cadeia produtiva precisa ser respeitada. Senão, o alimento vai faltar no prato de todo mundo.”

Ela também chama atenção para o silêncio de órgãos de defesa social: “Cadê os direitos humanos? Cadê os direitos da criança? Cadê a imprensa no local? Por que ninguém foi mostrar ao vivo o que estava acontecendo com essas famílias?”.

Respeito ao direito de produzir

Na fala que viralizou, Rose faz um apelo pela verdade e pela responsabilidade na cobertura dos fatos. “Eu não vi nenhuma imprensa ir lá. E hoje vêm dizer que só duas pessoas foram afetadas, que elas sabiam disso, que tinham perfil criminoso. Isso não é verdade. Quem tá ali são trabalhadores, são mães e pais de família. E eu jamais defenderia o que é errado.”

Ela conclui com um recado direto aos formadores de opinião: “Se você não entende isso agora, vai entender quando faltar comida na sua mesa. A luta dos produtores é uma luta por sobrevivência. E o mínimo que eles merecem é respeito.”

Compartilhar