Em desabafo emocionado, Rose Ribeiro contesta versão exibida no Jornal Hoje e denuncia injustiça com produtores rurais detidos durante operação do ICMBio no Acre.
“Eu nunca vi um estuprador perder os seus bens. Mas um trabalhador rural perdeu tudo. E ainda é chamado de bandido.” A frase é da professora Rose Ribeiro, moradora de Xapuri, no Acre, que se tornou uma das vozes mais impactantes em meio ao conflito envolvendo a retirada de gado da Reserva Extrativista Chico Mendes, na região da BR-317, alvo da Operação Suçuarana, deflagrada pelo ICMBio com apoio da Polícia Federal.
Na segunda-feira, 16, Rose usou as redes sociais para rebater a reportagem exibida no Jornal Hoje, da TV Globo, que noticiou a prisão de três manifestantes durante tentativa de impedir a remoção dos animais. O repórter chegou a afirmar que os presos foram flagrados com galões de gasolina e acusou os envolvidos de “tentarem atear fogo no acampamento”.
Revoltada, Rose disse que seu irmão foi um dos detidos e desmentiu as acusações. “Meu irmão não tinha nem isqueiro no bolso. Foi preso injustamente e jogado como bandido para o Brasil inteiro ver”, afirmou. Segundo ela, o irmão foi à manifestação apenas para apoiar outros produtores, mesmo sem ter parentesco com os principais envolvidos.
A professora, que leciona sociologia, criticou a cobertura da grande imprensa e acusou a Globo de não ter enviado nenhum repórter ao local antes de veicular o que classificou como “matéria caluniosa”.
“Venham ver com seus próprios olhos. Não tinha bandido naquele protesto. Tinha trabalhador rural. Tinha gente que tira leite e faz queijo para colocar comida na mesa do brasileiro”, declarou.
Em outro trecho do desabafo, Rose evidencia que a reportagem foi ao ar, mas não apresentou nenhuma imagem dos supostos ataques.”O repórter afirmou durante o jornal que os agentes do ICMBio foram atacados na madrugada de domingo, mas não apresentou imagens das supostas ações criminosas, nem ouviu as pessoas que foram detidas ou seus familiares. Somos só gente do campo, não somos bandidos. Aquelas pessoas que foram detidas não são bandidos”.
A fala de Rose evidencia o ressentimento de parte da população rural do Acre, que se sente criminalizada por viver dentro de áreas de conservação, mesmo quando a presença humana ali tem origem anterior à criação da unidade. A própria reserva Chico Mendes, criada para proteger comunidades extrativistas, hoje abriga pequenos produtores que alegam depender da criação de gado para subsistência.
“Se tem jeito para assassino, para estuprador, por que não tem solução pra uma família que só quer tirar leite da vaca e viver com dignidade?”, questiona Rose, visivelmente abalada. Ao fim do vídeo, ela pede paz, equilíbrio e respeito para as famílias de Xapuri, e um olhar mais justo por parte do Estado e da mídia nacional.