Estado ausente, crime herói
Em posicionamento firme nas redes sociais, professora Rose Ribeiro questiona atuação das instituições e alerta para o risco da criminalidade ocupar o vácuo deixado pela Justiça.
Após as manifestações que culminou com a interdição da BR-317 por produtores rurais e moradores da zona rural de Xapuri, em protesto contra a apreensão de gado realizada por agentes do ICMBio, a professora e influenciadora local Rose Ribeiro tem se posicionado publicamente sobre os fatos que vêm mobilizando a região. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, Rose fez duras reflexões sobre a atuação das instituições e os riscos de uma perigosa inversão de valores sociais.
“Eu recebi a notícia da apreensão do gado e fui olhar a matéria. O que vi me deixou preocupada: muitas pessoas defendendo atitudes que, aos meus olhos, não são corretas. Isso é muito sério”, afirmou.
Sem se colocar como especialista em sociologia, mas com respaldo em leituras e debates acadêmicos, Rose citou os teóricos Max Weber e Émile Durkheim para ilustrar a gravidade da crise institucional que, segundo ela, está em curso. “Weber dizia que o Estado detém o monopólio legítimo da força. Quando grupos criminosos passam a exercer esse papel, a legitimidade do Estado é rompida”, disse.
Para a professora, a atuação das autoridades na operação que resultou na retirada forçada de famílias e na apreensão dos animais de trabalhadores rurais careceu de humanidade, diálogo e planejamento. “Famílias foram jogadas na rua. Crianças ficaram sem lar. Gado solto pelas estradas. E nós, como sociedade, temos o direito de questionar”, declarou.
Segundo ela, o maior perigo é quando a injustiça institucional cria espaço para que o crime seja visto como solução. “Não é o crime que deve ocupar o lugar do Estado quando ele falha. É a sociedade que precisa se levantar”, pontuou.
Rose ainda questiona o que chama de “contradições da narrativa oficial” sobre a operação: “Dizem que era uma quadrilha criminosa, mas tudo estava espalhado, desorganizado. Como pode um crime tão articulado deixar tanto rastro?”, indaga.
Ao final do seu pronunciamento, ela reforça seu repúdio a qualquer tipo de vandalismo ou ação criminosa, mas reafirma o direito da população de se manifestar e cobrar das instituições ações mais justas e respeitosas. “Hashtag meu repúdio à criminalidade, mas também à injustiça institucional. Que cada um seja julgado por suas ações, conforme a lei. E que a verdade venha à tona com provas.”
A manifestação que interditou a BR-317 por horas, em Xapuri, foi motivada pela apreensão do gado de dois produtores da região – o senhor Josenildo e Gutierrez – ambos apontados pelo ICMBio como invasores de área protegida. Mas, do lado dos manifestantes, o discurso é outro: o de trabalhadores atingidos por decisões precipitadas, sem direito à defesa.
