Foto Wanglézio Braga
Quando a ideia de criar uma cooperativa de café foi colocada na mesa, em 2021, poucos imaginavam que, em menos de quatro anos, uma estrutura industrial de mais de R$ 10 milhões estaria de pé no coração da floresta, em Mâncio Lima. E menos ainda se previa que uma mulher — agricultora, mãe, esposa, produtora — se tornaria símbolo dessa virada.
Raimunda Antunes Silva foi a primeira cooperada da Coopercafé. Mulher de fala firme e olhar sereno, ela acompanha com emoção cada passo do projeto que ajudou a construir desde o início. “Hoje nós estamos concretizando esse sonho. Cada um de nós, produtores, estamos muito felizes com essa inauguração do complexo do café. É um novo tempo para nós, um tempo de dignidade”, afirma.
A produtora lembra o tempo em que o café era secado em lonas ao ar livre, à mercê das chuvas. Hoje, a realidade é outra. “Agora o café sai direto da lavoura, passa pela secagem na cooperativa e já segue embalado para o mercado. Facilitou nossa vida e valorizou nosso trabalho”, conta.
Além do ganho na produção, ela destaca o impacto social da cooperativa. “Quando a gente estava discutindo a criação da Coopercafé, nem imaginava o quanto isso poderia contribuir com a sociedade. Hoje, geramos emprego e renda. Outras famílias estão sendo contempladas. Isso muda tudo.”
A fala de Raimunda não é sobre máquinas nem estruturas. É sobre gente. É sobre o lugar que a mulher ocupa — e expande — no campo. “Pensei: será que vou dar conta do café? Porque nós, mulheres, temos os afazeres de casa, os filhos, a roça… Mas eu não me apeguei a esse pensamento. Fui correr atrás. Hoje, toda minha família está envolvida”, relata.
Com o complexo industrial em pleno funcionamento, Raimunda vê o café do Juruá como produto competitivo, com identidade própria e pronto para alcançar novos mercados. “Antes, era café bruto. Hoje, temos qualidade, embalagem, nome. Estamos preparados para a competitividade”, afirma com orgulho.
Mais do que um título ou pioneirismo, Raimunda carrega um legado: o de mostrar que, no coração da Amazônia, uma mulher pode mudar a história de um território com as mãos firmes que plantam, colhem e lideram.