Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

Por um Evangelho sem adornos

Por Ruy Cavalcante

“O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos, mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, que és, para que permaneçam as coisas”. (I Pe 3:3-4).

Este é um alerta interessante que Pedro faz às mulheres. Não se trata de machismo, antes ele entendia que a preocupação exagerada com cabelos, roupas bonitas, sapatos, maquiagem e outros utensílios afins, em detrimento do cultivo de um caráter piedoso, causam uma espécie de ilusão. As pessoas (os homens, nesse contexto) são atraídas por mulheres assim, fascinadas apenas por sua boa aparência física, buscando a sua exterioridade e não a sua essência, o seu coração, a sua verdadeira imagem. Paulo não proíbe o uso de adornos ou cuidado com a aparência física, tampouco os trata como impuros, mas alerta para que esta não seja a prioridade, o que pode ser causa de muitos relacionamentos doentes e abusivos.

Entretanto não é de adornos femininos que eu gostaria de tratar neste artigo, mas aproveitar para fazer uma analogia entre as palavras de Pedro, com o que boa parte da igreja vem fazendo com o Evangelho de Cristo.

Análogos a mulheres adornadas com utensílios que não demonstram seu verdadeiro conteúdo, muitos têm pregado um evangelho decorado com promessas e facilidades que não fazem parte do cerne da mensagem cristã, causando um fenômeno semelhante ao ocorrido no exemplo anterior, atraindo milhares de pessoa deslumbradas por coisas externas ao verdadeiro Evangelho, desconhecendo seu conteúdo vivo.

A consequência mais grave deste processo é a formação de um exército de crentes não transformados, identificados com um evangelho modificado à revelia. Não se poderia esperar um resultado diferente, uma vez que o Evangelho que transforma é o de Jesus, não o adornado por homens.

Jesus nunca prometeu riquezas materiais nem a solução imediata de todos os nossos problemas terrenos, isso não passa de um enfeite ao evangelho, com a intenção de atrair mais pessoas para a igreja, um comportamento puramente proselitista, como se a Obra de Cristo não fosse suficiente para salvar e atrair o ser humano para o Seu Reino.

Jesus nunca afirmou que não conheceríamos derrotas nem que seríamos conquistadores ou mesmo autoridades nesta terra (Mc 10:42-44). Estas coisas, na verdade, são reflexo dos desejos de nossa natureza caída, a mesma que fez satanás se rebelar contra Deus, ao desejar ser um conquistador, um rei.

O Reino de Jesus sequer é desta terra, como poderíamos achar que reinaríamos por aqui? Na verdade, quem oferece reinos terrenos é satanás, não Jesus, como podemos averiguar nos evangelhos de Mateus e Lucas, durante a tentação que Jesus sofreu no deserto:

“Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares”. (Mt 4:8-9)

Atente-se a isso: o Evangelho de Jesus é salvação para aquele que crê, não dinheiro no bolso. Não encontramos nas Escrituras nenhuma ênfase ao dinheiro ou a bens e posses deste mundo, mas a riquezas que vem do alto, de Deus, que não se podem encontrar nos cofres de um banco, mas no coração de Deus.

Este é o Evangelho que transforma e restaura vidas, aquele que ensina que o homem é um vencedor apenas por intermédio de Cristo e que para isso deve negar a si mesmo e viver a vontade de Deus não a sua própria. Este Evangelho gera vida eterna e não precisa de qualquer ornamentação. São estas as boas novas que devem ser anunciadas, as que proclamam que, apesar de nossa injustiça, temos alguém que morreu para que fossemos feitos justos, aptos a habitar com Deus eternamente, numa terra onde a corrupção não entra.

Por isso eu suplico à igreja, retorne ao Evangelho de Jesus Cristo, pois somente Ele pode nos salvar de nós mesmos. As pessoas precisam de uma Igreja sadia e que reflita a verdade e o amor de Cristo, com ou sem dinheiro, com ou sem conquistas terrenas.

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