Polanco propõe polo tecnológico no Juruá e desafia o Acre a pensar grande a partir do café

Software no campo

O conselheiro do TCE sugere que interior do Estado forme desenvolvedores de software e revolucione a produção agrícola com inteligência local

“Em um ano, no máximo dois, nós criamos desenvolvedores de software.” A frase dita de forma quase casual pelo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Ronald Polanco, durante a inauguração do Complexo Industrial de Café em Mâncio Lima, foi um dos momentos mais simbólicos do evento, realizado no coração do Vale do Juruá. Em um discurso que misturou passado, presente e futuro, Polanco não se limitou a exaltar a produção cafeeira, mas fez um chamado estratégico: transformar o Acre em território de inovação rural.

A fala, feita em meio a homenagens e memórias afetivas, propôs uma guinada histórica. “Não queremos ser exportadores de matéria-prima. Queremos nossos filhos com empregos complexos, desenvolvendo a complexidade da natureza”, disse. A proposta, que surpreendeu parte dos presentes, rompe com a lógica tradicional de escoar riqueza sem agregar valor no próprio estado.

Valor agregado: café vs. soja

Na ocasião, Polanco apresentou uma conta rápida, mas provocativa: enquanto uma carreta de soja carrega cerca de R$ 100 mil em valor, uma carreta de café chega a transportar até R$ 1 milhão. A diferença não é apenas no produto, mas na perspectiva de futuro. “Vocês criaram dois rochamentos de Mâncio Lima”, disse, referindo-se à escala da produção que pode transformar a economia regional.

Ao mencionar lutas entre povos indígenas da região, como os Nahuas e Xambres, e o histórico de resistência à construção da estrada que liga Mâncio Lima ao restante do estado, o conselheiro construiu um pano de fundo para sua proposta. “O presidente Lula, quando ainda era parlamentar, ouviu do DNIT que essa estrada não era viável porque beneficiava só 300 mil pessoas. Mas quem conhece o Acre sabe do seu valor”, afirmou, referindo-se ao histórico descaso com o interior amazônico.

Universidade, software e o futuro da produção

Para além das pontes e das plantações, o conselheiro chamou atenção para a necessidade de uma política pública de formação tecnológica voltada ao campo. “Precisamos fortalecer nossas universidades. Criar sistemas de controle de produção. Isso não é coisa de outro mundo”, declarou.

A proposta, que soa futurista para muitos, parte de uma realidade concreta: o Acre já exporta café com alto padrão, e a automatização dos processos pode ampliar ganhos e garantir mais autonomia econômica para os jovens da região.

O café como plataforma de desenvolvimento

A inauguração do Complexo de Café marcou mais do que a entrega de um equipamento público. Serviu como palco para um reposicionamento do Juruá dentro da lógica de desenvolvimento do Acre — não como coadjuvante produtivo, mas como possível referência em inovação agroindustrial.

“É hora de somar a indústria tecnológica à agroindústria. Essa será apenas uma multiplicação de uma série de investimentos que o Acre precisa”, encerrou Polanco, numa fala que ecoa a urgência de abandonar o ciclo do extrativismo rudimentar e apostar numa Amazônia com inteligência, valor agregado e autonomia.

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