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Um estudo inédito realizado no Vale do Juruá, no Acre, revelou que os feijões-caupi conhecidos como costela-de-vaca e manteiguinha branco apresentam teores de proteína de até 27%, índice bem acima da média mundial e dos 20% registrados em outras regiões do Brasil. A descoberta coloca a produção familiar da Amazônia no mapa da nutrição de alta qualidade e abre caminho para a criação de um selo de origem que valorize as variedades tradicionais cultivadas por agricultores locais.
A pesquisa integra a tese de doutorado “Qualidade nutricional e armazenamento de variedades de feijão-caupi cultivados no Juruá, Acre”, desenvolvida pela professora Guiomar Almeida Sousa, do Instituto Federal do Acre (Ifac), sob orientação do pesquisador Amauri Siviero, da Embrapa Acre. As análises foram realizadas no laboratório de Bromatologia da Embrapa e apontaram resultados expressivos tanto na composição nutricional quanto na estabilidade dos grãos ao longo do armazenamento.
As variedades com maior índice proteico são cultivadas por agricultores familiares que mantêm sistemas agrícolas tradicionais, com plantios realizados nas praias dos rios da região durante o período seco. Segundo os pesquisadores, a forma de cultivo, associada ao solo fértil das margens e à variabilidade genética local, é um dos fatores que explicam o valor nutricional elevado dos feijões amazônicos.
O estudo analisou 14 variedades de feijão-caupi produzidas no Vale do Juruá ao longo de três safras consecutivas. Entre os destaques estão, além da alta concentração de proteínas, a presença equilibrada de lipídios e minerais essenciais. Os testes também demonstraram que o uso de embalagens a vácuo ajuda a preservar as propriedades nutricionais por até um ano, mantendo a qualidade mesmo após longos períodos de armazenamento.
Em localidades como Marechal Thaumaturgo, os pesquisadores identificaram mais de 20 variedades tradicionais de feijão, confirmando o potencial do Juruá como um dos principais centros de diversidade genética dessa leguminosa na Amazônia. Essa riqueza biológica, aliada à produção sustentável e familiar, fortalece o argumento para a criação de um selo de origem que diferencie os feijões da região no mercado nacional.
A pesquisadora Guiomar Almeida destaca que o reconhecimento do valor nutricional e cultural das variedades amazônicas é fundamental para impulsionar políticas de valorização da produção local. “Esses feijões são patrimônio genético e cultural das comunidades do Juruá. Além de alimento, representam identidade, história e soberania alimentar”, afirmou.
A expectativa é que o estudo sirva de base para futuras certificações e estratégias de agregação de valor, beneficiando diretamente as famílias produtoras e ampliando o protagonismo da agricultura amazônica no cenário nacional. A proposta de um selo de origem também pode abrir novas oportunidades de mercado, especialmente em nichos voltados a produtos orgânicos e funcionais.
