Foto: Correio online
A vida inteira dedicada à pesca não tem sido suficiente para garantir o sustento de Cláudio Portela, pescador e feirante que hoje divide sua rotina entre o comércio e a luta por manter viva uma tradição cada vez mais ameaçada no Acre. Ele resume o drama de quem depende dos rios: “Difícil não é viver, difícil é sobreviver”.
Segundo Portela, em conversa com a equipe do Portal Correio Online e Acre Mais, a pesca nos rios do estado se tornou inviável em boa parte do ano. “Não tem local adequado para pescar, o rio dá pouco peixe, é muita poluição. Por isso me tornei feirante, porque trabalho mais com peixe de cativeiro do que com peixe da natureza”, relata. Fora do período do defeso, a baixa disponibilidade de pescado inviabiliza a atividade, obrigando pescadores a buscar alternativas em igarapés ou outros locais de difícil acesso.
O seguro defeso, benefício pago pelo governo durante a piracema, se tornou fundamental para a sobrevivência dos pescadores. “Ele representa metade do que eu ganharia em um ano. Sem isso, não teria como sustentar a família. Tem dia que a gente consegue colocar comida na mesa, mas tem dia que não tem”, desabafa Portela. Mesmo contribuindo com o INSS, ele considera o benefício a única forma de compensar as perdas do setor.
Dependência de Rondônia
O pescador também revela um dado alarmante: cerca de 90% do tambaqui vendido no Acre vem de Rondônia. A explicação está nos custos da produção local. “Os produtores do Acre reduziram em mais de 90% o número de criadouros porque a ração está caríssima. Produzir um quilo de peixe sai a R$ 12,90, mas o mercado paga muito menos. Só quem continua são os produtores antigos, de 20 a 30 anos de experiência. Os pequenos não têm condições”, explica.
Portela lembra que essa dependência fragiliza ainda mais a cadeia produtiva no estado, tornando o Acre um mero comprador do pescado produzido em Rondônia. “Aqui só chega tambaqui. Outros peixes, como curimatã, aparecem quando algum produtor local consegue fornecer”, completa.
Vendas limitadas e custos altos
Cláudio mantém uma rotina simples de feiras em Rio Branco e Senador Guiomard. Na capital, atua na feira do Incra; já no interior, comercializa às quartas e sábados. O custo da logística, no entanto, pesa no bolso. “Só de combustível são R$ 35 por viagem. Tanto faz eu vender ou não, o gasto é o mesmo”, conta. Por semana, ele consegue vender entre 50 e 90 quilos de peixe, volume suficiente apenas para sobreviver.
Para o pescador, o Estado não oferece políticas públicas consistentes que deem condições de crescimento ao setor. “Está muito devagar, como tudo. Você só vê apoio ao agro, mas a economia familiar não tem praticamente nada. Hoje só existem secretarias para formar emprego, mas não há fomento real para o pescador”, critica.