Paraense transforma 13 mil caroços de açaí em vestido e viraliza com moda sustentável

Foto Rede social

A publicitária e influenciadora paraense Dina Carmona surpreendeu o Brasil ao surgir no Festival de Parintins, no Amazonas, usando uma peça feita com 13 mil caroços de açaí reaproveitados. O vestido artesanal, resultado de dois meses de trabalho com a artesã Tânia Amaral e o stylist Neto Navarro, é mais que moda: é manifesto.

Produzida a partir de resíduos coletados no Mercado do Ver-o-Peso, em Belém — onde são consumidas mais de cinco toneladas de açaí diariamente — a criação ressignifica o descarte cotidiano na capital paraense. “Essa roupa é a Amazônia viva. É sustentabilidade e identidade transformadas em arte”, resume Dina.

Com cerca de 15 quilos, a peça conquistou as redes sociais e portais de notícia, mas por trás do visual impactante está um discurso ainda mais forte: o de uma Amazônia feita por quem a habita. “Sempre falam da floresta sem nunca terem pisado aqui. Moda também é território e voz política”, defende.

A ideia surgiu de forma espontânea, enquanto Dina comprava biojoias com o feirante Paulo, no Ver-o-Peso. Ali, ela adquiriu os caroços e idealizou o look. “Cada ponto bordado tem energia do povo. Do mercado para o festival. Da barraca para a passarela”, destaca. Nos bastidores da criação, ela compartilhou com humor e afeto todo o processo nas redes sociais, reforçando o vínculo com a cultura local.

Mais do que estética, Dina propõe um novo modelo de pertencimento. “Não finjo que não sou do Norte. Quando a gente assume a identidade, tudo muda.” Hoje, ela se define como um hub de marcas amazônicas, criando pontes entre tradição, inovação e orgulho regional.

Moda como ferramenta de visibilidade

Dina é fundadora do projeto Mulheres Fortes do Norte, que promove mentorias, escutas e apoio a empreendedoras nortistas. A iniciativa nasceu do incômodo com a ausência de representatividade de mulheres da região nas campanhas publicitárias e no mercado de moda. “Não é só sobre comprar menos, mas comprar com intenção e respeito por quem faz”, defende.

Ela já vestiu peças feitas com miriti, rede de pesca e sementes de muiraquitã, sempre com o propósito de valorizar materiais regionais e práticas sustentáveis. Para ela, sustentabilidade também é sobre gente: “Moda com propósito gera renda, visibilidade e resgata autoestima”.

A trajetória de Dina é marcada pela superação. Aos quatro anos, presenciou o assassinato de seu pai, o deputado João Batista, e foi baleada. Transformou a dor em impulso. “É sobre transformar ferida em semente”, afirma.

Em um ano emblemático para a Amazônia — com Belém como sede da COP30 em novembro — Dina reforça a urgência de escutar quem vive a floresta. “Somos nós que mantemos ela de pé. E precisamos ser ouvidos quando o mundo fala sobre clima.”

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