Durante a Semana Mundial de Imunização, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Unicef e a Aliança Gavi emitiram um alerta preocupante: o mundo está enfrentando um aumento de surtos de doenças que poderiam ser prevenidas por vacinas, como sarampo, meningite e febre amarela. O cenário é agravado pela desinformação, crises humanitárias, crescimento populacional e cortes no financiamento internacional, fatores que comprometem décadas de progresso na saúde pública global.
Segundo as entidades, doenças que estavam praticamente controladas ou até erradicadas em alguns países, como a difteria, correm o risco de ressurgir. As agências pedem atenção política urgente, reforço no financiamento e a reorganização de programas de imunização, especialmente em países de baixa e média renda.
Vacinas salvam milhões de vidas
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lembrou que as vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas nas últimas cinco décadas, o que representa mais de 4 milhões por ano. Segundo ele, crianças nascidas hoje têm 40% mais chance de sobreviver ao primeiro ano de vida do que há 50 anos graças à vacinação.
“Com novas vacinas contra a malária e o câncer do colo do útero, salvamos ainda mais vidas. Mas os cortes no financiamento ameaçam esses avanços. As vacinas não protegem apenas indivíduos, mas também sociedades e economias”, destacou Tedros.
Sarampo volta com força
O sarampo é apontado pela OMS como a ameaça mais crítica neste momento. Em 2023, foram registrados mais de 10 milhões de casos da doença — um aumento de 20% em relação a 2022. Nos últimos 12 meses, 138 países relataram casos, sendo que 61 enfrentaram surtos classificados como grandes ou disruptivos — o maior número desde 2019.
Meningite avança na África
A meningite também preocupa. Só nos três primeiros meses de 2024, foram relatados mais de 5,5 mil casos suspeitos e quase 300 mortes em 22 países africanos. Em todo o ano de 2023, foram mais de 26 mil casos e quase 1,4 mil óbitos registrados.
Febre amarela ressurge
Na região africana, a febre amarela registrou 124 casos confirmados em 12 países neste ano. Já nas Américas, 131 casos foram notificados em pelo menos quatro países, incluindo o Brasil.
Esses números contrastam com a tendência de queda da última década, atribuída aos programas de vacinação de rotina e estoques globais da vacina.
Impacto do corte de verbas
Um levantamento da OMS com 108 escritórios da organização revelou que quase metade enfrenta interrupções graves em campanhas de vacinação e dificuldades no acesso a insumos. A vigilância de doenças também foi afetada em mais da metade dos países pesquisados.
Crianças não vacinadas aumentam
O número de crianças que não receberam todas as vacinas de rotina continua subindo. Em 2023, 14,5 milhões de crianças ficaram sem a imunização completa, número superior aos 13,9 milhões em 2022 e aos 12,9 milhões em 2019.
Mais da metade dessas crianças vive em zonas de conflito ou instabilidade, onde o acesso aos serviços básicos de saúde é precário.
“Estamos vendo interrupções em quase 50 países, com retrocessos comparáveis ao período da pandemia de covid-19. Não podemos permitir essa regressão na luta contra doenças evitáveis”, alertou Catherine Russell, diretora executiva do Unicef.
Com informações Agência Brasil
Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil