Um pai que perde a filha não encontra palavras. Ou, se encontra, escreve como quem sangra. Manoel Marins, pai de Juliana Marins, usou a poesia para atravessar o impossível: se despedir da filha, que morreu longe de casa, em circunstâncias que ainda abalam a todos que a amavam.
Em sua rede social, ele publicou um texto comovente. Um poema que ecoa a dor de tantos pais, mães, irmãos e amigos que vivem a experiência inominável da perda. Mas ali, naquelas linhas, não há só dor. Há amor profundo, há vínculo eterno, há uma tentativa de manter viva a presença de Juliana – mesmo na ausência mais cruel.
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar”
A publicação foi feita poucas horas após a confirmação da morte de Juliana, que estava na Indonésia. Desde então, a família enfrenta não só o luto, mas também a burocracia de um resgate internacional, a distância, o silêncio entre os fusos, a dor que não encontra consolo.
“A saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu”
A despedida de Manoel não é um simples lamento. É a tradução poética do que significa perder alguém que é mais que um ente querido: é parte do próprio corpo, é metade da alma, é carne arrancada da carne.
“A saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi”
Juliana Marins partiu, mas deixou em cada pessoa que a amava uma marca indelével. A dela é uma ausência que pulsa. E o poema do pai — tão íntimo e tão universal — tocou milhares de pessoas, atravessou fronteiras, virou oração.
A família segue em luto, pedindo respeito, silêncio e orações. Não há justiça maior, neste momento, do que permitir que a memória de Juliana seja acolhida com dignidade. E que a dor do pai seja escutada — ainda que em versos.
“E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus”