O sangue que a Energisa nos faz perder

EDITORIAL

O sangue que a Energisa nos faz perder

Era para ser uma manhã de solidariedade. Era para vereadores, servidores, jornalistas e cidadãos comparecerem à Câmara Municipal de Rio Branco com um único objetivo: doar sangue e salvar vidas. Mas o que era para ser um gesto simples de empatia e responsabilidade social se transformou em mais um retrato vergonhoso daquilo que já virou rotina no Acre: a ausência da Energisa.

O ônibus do Hemoacre, estacionado em frente à sede do Legislativo, não pôde funcionar porque a empresa de energia simplesmente não apareceu para fazer a ligação técnica solicitada com antecedência. Resultado? Equipamentos desligados, doações canceladas e um símbolo escancarado da negligência com que se trata o interesse público neste estado.

Não é a primeira vez. E, se nada mudar, infelizmente não será a última. Quantas bolsas de sangue deixaram de ser coletadas por causa da irresponsabilidade da Energisa? Quantos pacientes internados ficaram à espera de um gesto que depende de uma estrutura mínima — como uma tomada funcionando?

A sessão da Câmara foi suspensa para que os parlamentares participassem da ação. Havia mobilização, divulgação, boa vontade. Faltou só a energia. E não a metafórica, mas a elétrica mesmo — aquela que deveria ser garantida por quem cobra caro, lucra alto e entrega pouco.

O caso não é apenas lamentável. É inadmissível. Quando o descaso de uma concessionária impede a realização de uma campanha de doação de sangue, estamos diante de um limite ético rompido. Estamos falando de vidas que dependem disso. Sangue não se compra. Sangue se doa. E a Energisa, ao não cumprir sua parte, se torna cúmplice do prejuízo que isso representa para o sistema de saúde e para os cidadãos acreanos.

Quantas vezes mais teremos que escrever editoriais como este? Quantas vezes mais vamos repetir que coisas assim só acontecem no Acre?

A Energisa precisa ser cobrada com firmeza. Precisa ser responsabilizada. O povo acreano está cansado de ser tratado com desdém por uma empresa que deveria prestar um serviço essencial — e que, na prática, interrompe esperanças, ações solidárias e, pior, compromete o que temos de mais sagrado: a vida.

Fica a pergunta: e se fosse o seu parente à espera de uma bolsa de sangue que não chegou porque a Energisa não ligou a energia?

É hora de parar de aceitar o inaceitável. Porque não é só a luz que falta. Falta compromisso. Falta respeito. Falta vergonha.

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