Vista do rio Acre, foz do Purus em 2024 – Foto: Guilherme Limes
Por Guilherme Limes
Essa é uma visão aérea do rio Acre, feita por mim em janeiro desse ano. além de admirado pela vista, me recordei de um dos episódios que marcou a minha vida e de outros conterrâneos em 2023. Era 23 de março, dia esse que comemorávamos aniversário do meu pai, quando o manancial e seus igarapés rio-branquenses transbordaram. Nesse momento, o tempo não havia sido bondoso durante aquela noite, em questão de 40 minutos as águas cobriam minha casa e os pertences que tinham ali, foram sonhos e memórias que ficaram deturpadas, a chuva cai no bairro Raimundo Melo como as lágrimas de desespero de alguns moradores e inquilinos daquele local.
Para quem não sabe… a Região Norte detém a maior bacia hidrográfica do mundo, popularmente conhecida como bacia amazônica, que nasce na cordilheiras dos Andes, localizada no Peru, ou seja, as águas que descem pelo território acreano são as mesmas que desaguam a Amazônia, estados amazônidas brasileiros. Nos últimos anos, muitos desastres ambientais tem assolado o país, especialmente, esses territórios. E nós, nortistas, sentimos o impacto em nível direto e indireto e em proporções micro e macro sociais disso. O Acre, nos dois últimos anos, enfrentou crises climáticas, consequências essas que ocasionaram em duas cheias históricas. A medição, que vem sendo monitorada desde 1971, registrou pela sétima vez o rio transbordar a cota de alerta de mais de 14 metros. Ainda em 2024, o rio Acre atingiu a marca de 17,54 metros, o que considerou a segunda maior cheia, que atingiu mais 120mil acreanos, desde a de 2015. O estado decretou estado de emergência, isso porque 19 dos 22 municípios haviam sido atingidos pela cheia que durou 17 dias.
O Brasil vive em estado de choque com o infeliz desastre ambiental e climático que vem acontecendo no Rio Grande do Sul, e reflexo disso é de como a sociedade decide seus representantes políticos, cujas práticas de interesse econômico pelas políticas públicas são omitidas e desviadas, manejando populares e instituições e organizações independentes a se unem para fazer serviço que deveria ser priorizado pela politicagem ideológica. É reflexo também de como a mídia, e os grandes veículos de jornalismo do país, tem prioridade com suas agendas de interesse público voltados à centralidade urbana mais desenvolvida nacionalmente. É reflexo também de como o racismo ambiental acomete, especialmente, aquelas pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, são nessas condições que todas a classes sociais são atingidas pela negligência política e desleixo dos políticos eleitos. É reflexo também de como nós, acreanos, nortistas e amazônidas, somos tratados aos extremos de isolamento social e político ao sermos esnobados como cidadãos invisíveis em forma estrutural, sistemática e cultural por outros brasileiros. Por fim, que seja esse um reflexo para que as pessoas se solidarizarem em prol de todas as coletividades de vida como tem acontecido com gaúchos, quem sente isso não somos apenas nós, humanos, é a natureza reagindo e os animais indefesos sofrem conosco.