Não é incomum que episódios envolvendo abordagens policiais, muitas vezes polêmicas, ganhem destaque na imprensa e nas redes sociais, gerando crises de imagem para a Polícia Militar. Tomemos como exemplo o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), cujas ações ao longo dos anos rotineiramente se tornam alvo de críticas e mal-entendidos. Em geral, essas situações envolvem cidadãos que, ao cometerem infrações de trânsito, sentem-se injustiçados e perseguidos, alimentados pelo senso comum de que as forças policiais são, por natureza, opressoras. Sob o pretexto de serem “pessoas de bem” ou “bons cidadãos”, acreditam que não deveriam ser submetidos à fiscalização, o que resulta em um embate direto com o papel legítimo da polícia.
Como policial militar, já atuei diretamente em ocorrências dessa natureza e entendo a complexidade. Como jornalista, percebo que tais situações geram grande repercussão e, consequentemente, interesse da mídia, pois o debate público sobre a atuação policial é combustível para pautas acaloradas e engajamento, por vezes sensacionalista.
Com base na experiência prática, posso dizer que, na maioria desses casos, os procedimentos adotados pelos agentes de segurança são absolutamente corretos, à luz da legislação. No entanto, quando vídeos parciais dessas abordagens são divulgados nas redes sociais, costuma surgir uma onda de comoção pública, geralmente alimentada por uma falta de entendimento dos protocolos policiais. A situação se agrava quando setores da imprensa replicam esses vídeos sem uma análise criteriosa e sem levar em conta a versão oficial de uma instituição que tem fé pública.
É necessário refletir sobre a origem dessas crises de imagem. A sociedade muitas vezes desconhece a complexidade do trabalho policial, especialmente nas ações de trânsito, cujo objetivo principal é a segurança de todos. Ao abordar um veículo que está descumprindo a legislação, o policial não faz um julgamento moral sobre o condutor, mas cumpre seu dever de zelar pela ordem pública e pela preservação de vidas. O fato de um cidadão ser considerado “de bem” não o exime do cumprimento das leis de trânsito, e o papel da Polícia Militar é garantir que essas leis sejam aplicadas de forma imparcial.
Contudo, quando esses fatos chegam ao público, muitas vezes por meio de vídeos que mostram apenas um recorte dos fatos, a narrativa tende a mudar. A polícia, que apenas cumpriu a lei, passa a ser retratada como vilã, e os profissionais que seguem os procedimentos operacionais padrões ficam expostos ao escrutínio público, mesmo quando documentos legais atestam sua conduta. Muitas vezes, a palavra do cidadão, comprovado infrator, tem maior peso.
É fundamental que a imprensa adote uma postura responsável e equilibrada ao cobrir essas situações. Repercutir apenas o que é mostrado em um vídeo, sem investigar o que ocorreu antes e depois daquele momento, cria uma narrativa distorcida, que não reflete a verdade completa. A divulgação de vídeos isolados, sem uma análise que considere o contexto, pode prejudicar não apenas a imagem da polícia, mas também a sociedade, que se vê envolvida em uma polarização desnecessária.
A imprensa tem o dever ético de investigar, apurar e transmitir informações com imparcialidade, buscando não apenas os relatos da parte que se considera lesada, mas também a versão da polícia, embasada em boletins de ocorrência e documentos oficiais emitidos por uma instituição que, repito, é reconhecida por sua fé pública. Ignorar essas informações é desrespeitar o trabalho de uma força que está diariamente nas ruas, arriscando-se em benefício da população.
Como policial militar, entendo que o uso da força pela PMAC deve ser sempre o último recurso. No entanto, em situações em que há resistência ao cumprimento da lei, é inevitável que ações mais enérgicas sejam tomadas. Esses procedimentos estão previstos nas normas que regem o trabalho policial e são aplicados com o intuito de proteger tanto os cidadãos quanto os próprios policiais.
Por fim, é necessário um esforço conjunto para promover uma convivência mais harmoniosa entre a população, a polícia e a imprensa. Os cidadãos precisam entender que, ao serem abordados, não estão sendo julgados por seu caráter, mas sim por suas ações naquele momento. O respeito às leis e às autoridades é essencial para a manutenção da ordem e da segurança. Já a imprensa, como mediadora entre os fatos e a sociedade, deve agir com responsabilidade, buscando sempre a verdade completa e evitando sensacionalismos que podem prejudicar a imagem de instituições responsáveis pela preservação da ordem pública.
A crise de imagem enfrentada pela PMAC em algumas dessas ocorrências pode ser revertida com mais diálogo, compreensão e, acima de tudo, respeito mútuo. O papel da polícia é servir e proteger, e é necessário que todos, cidadãos e imprensa, colaborem para que esse trabalho seja realizado de forma eficaz, em benefício de toda a sociedade acreana.
Por Joabes Guedes
Joabes Guedes é jornalista e sargento da Polícia Militar. Trabalha na Assessoria de Comunicação da PMAC.