Acre na linha de frente
O ex-ministro Aldo Rebelo trouxe uma provocação geopolítica que ainda encontra resistência nos debates públicos: o Acre é a fronteira mais avançada do Brasil com a Ásia e com o Pacífico, e deveria ocupar um lugar central nas estratégias de desenvolvimento nacional.
“O Acre é a unidade da federação mais próxima da região que mais cresce no mundo. Mas enfrenta bloqueios ao seu projeto de desenvolvimento, à infraestrutura de rodovias, ferrovias, energia e hidrovias”, afirmou.
A fala ocorre no momento em que o Brasil tenta se reposicionar globalmente como potência verde. Mas, segundo Rebelo, o país ainda se comporta como se a Amazônia fosse apenas um território a ser tutelado, e não uma plataforma estratégica de inserção internacional.
A geopolítica esquecida
O estado do Acre está inserido no traçado da chamada rota bioceânica, que interliga Brasil, Bolívia e Peru aos portos do Pacífico. Mais do que um corredor logístico, trata-se de um eixo comercial que poderia aproximar o agronegócio brasileiro da Ásia, o maior mercado consumidor do mundo.
Mas, na prática, o Acre ainda vive isolado: rodovias sem duplicação, BRs que se tornam intransitáveis no inverno amazônico, e uma burocracia ambiental que transforma obras em heresia política.
“O futuro do Acre é muito promissor. Mas, para isso, ele precisa se livrar dos bloqueios e ter acesso à infraestrutura básica. Sem isso, continuará sendo tratado como um apêndice, e não como um centro de oportunidade”, disse Rebelo.
A crítica de Aldo Rebelo também escancara uma contradição histórica: o Acre é um dos estados que mais protege seu território — 85% da área está sob algum regime de conservação ou uso sustentável — mas é também um dos que menos se desenvolvem.
“Compare isso com São Paulo, com a Europa, com os Estados Unidos. O Acre protege mais que todos eles. Mas onde estão as contrapartidas? Onde está a infraestrutura? Onde está o emprego para a juventude que sai das escolas técnicas e das universidades?”, questionou.
Esse paradoxo ajuda a entender por que o Acre, mesmo sendo uma potência ambiental, ainda figura entre os estados com os piores indicadores de renda e infraestrutura básica.
Nova agenda para o país
Segundo o ex-ministro, o Brasil precisa abandonar a visão de que a Amazônia deve ser mantida em um estado permanente de “não uso”. Em vez disso, é preciso reconhecer o papel estratégico da região — e do Acre — para o futuro do Brasil em um mundo que se reestrutura ao redor de energias limpas, comércio intercontinental e segurança climática.
“O Acre pode ser uma porta para o Pacífico e uma vitrine da bioeconomia. Mas para isso precisa ser respeitado, estruturado e incluído em uma política nacional de desenvolvimento com soberania”, concluiu.