Editorial
O Acre, terra de Chico Mendes e símbolo da luta ambiental no mundo, amarga agora um dado que exige mais do que preocupação: exige ação. Estar entre os piores estados do país em sustentabilidade social, segundo o Ranking de Governança e Sustentabilidade do Centro de Liderança Pública (CLP), não é apenas uma má colocação técnica — é a expressão de uma ferida aberta na dignidade do povo acreano.
Enquanto o Estado conquista espaços relevantes no debate ambiental — inclusive ocupando a 8ª posição nacional na gestão de ativos verdes —, falha em garantir o mínimo para quem mais precisa: moradia digna, alimentação, acesso à saúde e educação básica de qualidade. Esse contraste escancara uma verdade incômoda: há um descompasso entre a imagem que vendemos e a vida que entregamos.
Fazemos bonito nos fóruns internacionais, mas mantemos milhares de famílias sem saneamento básico, crianças estudando em prédios improvisados e jovens evadindo da escola para tentar sobreviver. De que adianta avançar no marketing da floresta se seguimos negligenciando o ser humano que vive nela?
O editorial de hoje não é uma cobrança a um único governo, mas a toda uma lógica que há anos negligencia a justiça social como base do desenvolvimento sustentável. Porque sustentabilidade não se resume à floresta em pé. Sustentabilidade verdadeira é aquela que respeita o chão e cuida de quem pisa nele.
Nosso povo, especialmente o que vive em comunidades ribeirinhas, rurais e indígenas, já deu exemplos de resiliência suficientes. O que falta é que o poder público — em todas as suas esferas — assuma a coragem de virar essa página histórica. E virar com planejamento, investimento, descentralização de políticas públicas e gestão comprometida com resultados reais, não com planilhas bonitas.
O relatório é claro. Os dados são frios, mas representam vidas reais. Pessoas que enfrentam fome, abandono e exclusão. Enquanto isso, seguimos tratando os problemas com medidas paliativas, orçamentos engessados e uma estrutura fiscal frágil, que nos jogou para a 22ª posição no ranking geral.
O Acre precisa mais do que floresta viva. Precisa de gente viva, com dignidade, saúde, educação e comida no prato. Sustentabilidade social é um pilar, e sem ele não há futuro. Ou mudamos esse modelo, ou seguiremos sendo o retrato mais doloroso das contradições brasileiras.