Foto: Anmiga
1ª Conferência Nacional e IV Marcha reuniram cinco mil vozes em defesa de corpo, território e futuro
O som dos maracás misturado ao eco dos cantos ancestrais rompeu a rotina de Brasília. Das primeiras horas do dia até o cair da tarde, a Esplanada dos Ministérios tornou-se território sagrado, ocupado por cerca de cinco mil mulheres indígenas vindas de mais de 100 povos e todos os biomas do país. Com pinturas de urucum, cocares, faixas e cartazes, elas marcharam com um só propósito: afirmar que corpo e território são inseparáveis e que o futuro da Terra passa pela voz das guardiãs da floresta.
Aquele cenário vibrante era o ponto alto de uma semana histórica para o movimento indígena no Brasil. Entre os dias 4 e 7 de agosto, Brasília recebeu a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas e a IV Marcha das Mulheres Indígenas, encontros que uniram debates, rituais e articulação política no Eixo Cultural Ibero-Americano. Organizados pelos Ministérios das Mulheres e dos Povos Indígenas, com apoio da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), os eventos marcaram a união de vozes de todo o país em defesa de território, direitos e clima.
Durante três dias, de 4 a 6 de agosto, o Eixo Cultural Ibero-Americano foi palco da 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas. Sob o tema “Mulheres Guardiãs do Planeta pela cura da Terra”, as participantes debateram cinco eixos centrais: Direito e Gestão Territorial; Emergência Climática; Políticas Públicas e Violência de Gênero; Saúde; Educação e transmissão de saberes ancestrais.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, definiu o momento como uma conquista histórica. “Foram cinco séculos para que a gente pudesse realizar a primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas. E hoje a gente tem. Essa conferência é o começo de uma nova página na história do Brasil.”
O encerramento da semana, em 7 de agosto, levou o movimento para as ruas. A IV Marcha das Mulheres Indígenas transformou Brasília em um rio humano de cantos e passos firmes. Sob o lema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta”, milhares de mulheres caminharam do Eixo Cultural até o Congresso Nacional, onde realizaram um ato político-cultural e entregaram a Carta dos Corpos-Territórios em Defesa da Vida.
O documento apresentou demandas urgentes, como o veto ao PL 2.159/21 (conhecido como “PL da Devastação”), a demarcação de terras indígenas, o combate à violência de gênero, a garantia de uma educação que respeite saberes originários e ações imediatas de justiça climática.
Para a liderança Marinete Tucano, coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), a marcha foi a tradução da força coletiva do movimento. “Estamos trazendo nossas vozes… afinal é em Brasília que os nossos direitos são discutidos.”