O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) rompeu oficialmente com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e lançou duras críticas à condução da reforma agrária pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo lideranças do movimento, o governo estaria inflando números de famílias assentadas e fazendo anúncios públicos que não refletem a realidade vivida no campo. O episódio inaugura uma nova fase de tensão entre o Planalto e um de seus históricos aliados.
O estopim da crise foi a divulgação de que o governo Lula teria assentado 71 mil famílias somente em 2024. De acordo com o MST, esse número esconde uma verdade incômoda: parte expressiva dessas famílias não teve acesso à terra, não possui título regularizado e nem usufrui de políticas públicas essenciais como crédito agrícola, habitação ou assistência técnica. Em muitos casos, tratam-se de áreas que apenas passaram por análise técnica ou que aguardam decisão judicial para oficialização.
Entre os casos apontados está o acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais, onde cerca de duas mil famílias vivem desde a década de 1990. Apesar de o governo federal ter anunciado a inclusão da área no processo de regularização, o MST afirma que ainda não houve nenhuma resolução cartorial ou jurídica que assegure a posse da terra para os trabalhadores.
Diante do impasse, o movimento decidiu romper o diálogo com o ministro Paulo Teixeira e passou a defender abertamente sua saída da pasta. Nas palavras do MST, o ministro atua com “incompetência técnica” e estaria mais preocupado com sua visibilidade política do que com o avanço real da reforma agrária. A medida marca um ponto de inflexão na relação entre o MST e o governo petista.
Governo nega maquiagem nos números
Em resposta, o Ministério do Desenvolvimento Agrário afirma que os dados apresentados são transparentes e refletem todas as etapas já iniciadas, incluindo os processos em andamento. A pasta também justifica os atrasos com base no cronograma orçamentário — o orçamento da União para 2024 só foi aprovado em abril — e com o desmonte herdado do governo anterior.
Apesar da explicação, a insatisfação do movimento é crescente. O MST também critica a lentidão nas ações práticas e a escassez de políticas integradas para os assentamentos. Sem estrutura básica, muitas das áreas reconhecidas pelo governo não estão aptas a garantir condições mínimas de sobrevivência para as famílias.