Mortes violentas caem no Brasil em 2024, mas feminicídios e crimes sexuais batem recordes

Foto: Internet

País registra queda de 5,4% nas mortes violentas intencionais, mas violência contra mulheres, crianças e adolescentes preocupa especialistas
O Brasil registrou 44.127 mortes violentas intencionais (MVIs) em 2024 — uma queda de 5,4% em relação ao ano anterior. Os dados fazem parte da 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada nesta quinta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

A categoria MVI inclui homicídios dolosos (inclusive feminicídios), latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes em ações policiais e assassinatos de policiais dentro e fora de serviço.

A diretora executiva do Fórum, Samira Bueno, destaca que a queda é reflexo de políticas públicas baseadas em evidências, ações de prevenção e mudanças nas dinâmicas do crime organizado. Apesar disso, ela alerta para “bolsões de extrema violência”, sobretudo em cidades do Nordeste, onde disputas entre facções seguem intensas.

Perfil das vítimas permanece o mesmo
Os dados mantêm um padrão alarmante:

91,1% das vítimas são homens

79% são negros

48,5% têm até 29 anos

73,8% morreram por armas de fogo

57,6% foram assassinadas em via pública

As dez cidades mais violentas com mais de 100 mil habitantes estão no Nordeste, com destaque para Maranguape (CE), Jequié (BA), Juazeiro (BA) e Cabo de Santo Agostinho (PE).

Entre os estados, o Amapá (45,1 por 100 mil habitantes) lidera o ranking de mortes violentas, seguido por Bahia (40,6) e Ceará (37,5). Na outra ponta, aparecem São Paulo (8,2), Santa Catarina (8,5) e o Distrito Federal (8,9).

Feminicídios aumentam e batem recorde histórico
Apesar da queda no número geral de mortes violentas, os feminicídios cresceram 0,7%, com 1.492 mulheres assassinadas por sua condição de gênero — o maior número desde o início da série histórica, em 2015.

O perfil das vítimas reforça o padrão de vulnerabilidade:

63,6% são negras

70,5% tinham entre 18 e 44 anos

80% foram mortas por companheiros ou ex-companheiros

64,3% foram assassinadas dentro de casa

97% dos autores são homens

Além disso, as tentativas de feminicídio aumentaram 19%, com 3.870 registros. Casos de stalking cresceram 18,2% e violência psicológica, 6,3%.

Violência contra crianças e adolescentes também cresce
As mortes violentas de crianças e adolescentes (0 a 17 anos) aumentaram 3,7%, totalizando 2.356 vítimas em 2024.

Outros crimes também cresceram:

+14,1% na produção de material de abuso sexual infantil

+9,4% em abandono de incapaz

+8,1% de maus-tratos

+7,8% de agressões em contexto doméstico

Crimes sexuais batem recorde; estupro é registrado a cada seis minutos
O Brasil registrou 87.545 estupros e estupros de vulnerável em 2024 — maior número da série histórica. Isso equivale a um caso a cada 6 minutos.

Outros dados chocantes:

76,8% das vítimas são vulneráveis (como crianças)

55,6% são mulheres negras

65% dos crimes ocorreram dentro de casa

45,5% dos agressores são familiares

20,3% são parceiros ou ex-companheiros íntimos

O crime de pornografia infantil foi o que mais cresceu: +13,1% em relação a 2023.

Letalidade policial avança, com destaque negativo para São Paulo
As polícias brasileiras foram responsáveis por 6.243 mortes em 2024 — 14,1% do total de mortes violentas no país. Desde 2014, já são mais de 60 mil mortes por intervenção policial.

O estado de São Paulo teve alta de 61%, impulsionada pela Operação Escudo na Baixada Santista e o fim do uso de câmeras corporais em fardas policiais.

As cidades de Santos e São Vicente estão entre as mais letais: em ambas, mais de 6 em cada 10 mortes foram causadas por policiais.

As três polícias mais letais em 2024:

Amapá – 17,1 mortes por 100 mil habitantes

Bahia – 10,5

Pará – 7,0

Panorama geral preocupa especialistas

Embora o Brasil registre uma queda consolidada nas mortes violentas desde 2018, os dados revelam graves retrocessos em crimes de gênero, contra crianças e adolescentes, além de um aumento na letalidade policial em algumas regiões.

A diretora do FBSP alerta para a urgência de políticas públicas mais eficazes, com foco na proteção das populações vulneráveis e no combate às violências invisibilizadas, como as domésticas e sexuais.

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