Moradores do Papoco protestam na Câmara contra remoção para o Rosa Linda

Foto: David Medeiros

Foto: David Medeiros

Dezenas de moradores da comunidade conhecida como Papoco, no bairro Dom Giocondo, compareceram à Câmara Municipal de Rio Branco na manhã de quinta-feira, 30, para protestar contra a intenção da Prefeitura de transferi-los para o bairro Rosa Linda, na parte alta da cidade. O ato ocorreu durante a Tribuna Popular e foi marcado por críticas à gestão municipal e ao secretário de Assistência Social, João Marcos Luz, acusado de tentar remover as famílias sem diálogo.

A presidente da associação de moradores, Gleiciane de Oliveira, afirmou que a comunidade foi surpreendida por um recadastramento feito por equipes da Assistência Social. Segundo ela, os moradores acreditavam que se tratava de atualização de dados do CadÚnico, Bolsa Família e SUS, mas, dias depois, foram informados de que o levantamento serviria como base para a desocupação da área. “Fizeram um cadastro dizendo que era da saúde, e depois disseram que a gente tinha concordado em sair. Isso é mentira. Nós não queremos sair das nossas casas”, declarou.

Gleiciane destacou que o Papoco é uma comunidade consolidada há décadas e que muitos moradores trabalham, estudam e mantêm comércios na região central. “A gente vive bem lá. Temos nossa rotina, nosso trabalho perto, nossos filhos estudam por perto. Se a gente for para o outro lado da cidade, tudo vai ficar mais difícil. O que nós queremos é melhoria no bairro — uma área de lazer, cursos para as mães, revitalização da escola e o cumprimento das promessas que foram feitas”, afirmou.

O morador Eduardo Nonato de Freitas, mestre de capoeira, também questionou a versão apresentada pela Prefeitura. “O secretário disse que 95% dos moradores querem sair, e isso não é verdade. O que o prefeito prometeu foi a reforma da escola e melhorias de acesso, mas até hoje nada foi feito. O que a gente pede é infraestrutura, não remoção”, disse.

Já o presidente da comunidade, Wellington Pinheiro de Andrade, morador há 38 anos, reforçou que o medo maior é a transferência para uma área dominada por facções rivais, o que colocaria em risco a segurança das famílias. “Querem nos mandar para perto da Cidade do Povo, onde há conflito entre grupos. Isso é perigoso. Nós moramos no centro, perto do trabalho e das escolas. Não faz sentido nos tirar de lá”, afirmou.

Wellington também relatou que o promotor de Justiça Tarso Pinheiro visitou a comunidade nesta semana e se posicionou contra a remoção. “Ele andou com a gente por todo o bairro e viu que lá não é área de risco. Disse que não apoia essa saída forçada. Isso nos deu esperança”, completou.

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