Com mais de 30 anos dedicados à apicultura, Gildmar lidera a produção de mel no Acre e diz que o estado pode sair do fim da fila se governo mantiver apoio técnico e estrutura para quem produz.
Na maior feira de agronegócio do Acre, entre estandes chamativos e discursos oficiais, é na fala simples de um produtor que emerge a verdade sobre a cadeia do mel: o estado ainda consome mais do que produz.
“A gente não vence a demanda. E mesmo assim, ainda entra mel de fora. Sabe por quê? Porque ainda falta produção local, falta mais gente com estrutura pra vender de forma regularizada”, diz Gildmar dos Santos Sobreiro, maior produtor de mel do Acre.
Goiano de origem e apaixonado pela apicultura desde 1995, Gildmar se instalou no Acre em 2018 com um objetivo claro: transformar o mel em uma força real da economia local. E está conseguindo — mas alerta que o avanço é recente, frágil e depende da continuidade das políticas públicas.
“Há dois anos, a apicultura no Acre estava morta. Hoje a gente vê estandes bonitos, técnicos capacitados e apoio do governo. Mas se parar agora, tudo desmorona”, afirma Gil, que participa da Expoacre há cinco edições.
A diferença, segundo ele, está no investimento técnico. “Agora estão trazendo gente que entende de verdade, não só de abelha, mas do bioma amazônico. Isso muda tudo. Aqui é outro clima, outra florada, outro jeito de produzir.”
Produção abaixo do consumo
Mesmo liderando a produção estadual, Gildmar afirma que o Acre ainda não consegue abastecer nem metade do que consome. “Hoje talvez a gente produza uns 30%. O resto vem de fora. Mel de quatro, cinco estados diferentes aparece nas prateleiras porque a gente não tem volume suficiente.”
Esse cenário revela uma lacuna de mercado, mas também expõe a urgência de políticas que ajudem outros produtores a se formalizarem. “Eu parei de vender informalmente. Mas se outros não entrarem no mercado legalizado, o vácuo continua — e quem preenche é o mel de fora.”
A casa do Mel: do campo às gôndolas
À frente da única casa com selo de inspeção estadual de mel, Gil diversificou o negócio. Vende embalagens de 1kg e 500g, sachês, potes com favo, própolis, cosméticos e já planeja um projeto de culinária à base de mel. “Eu amo a apicultura. Quando você ama o que faz, tudo fica mais fácil. Mas só amor não resolve — é preciso incentivo e visão de futuro.”
Com produção constante e regularização sanitária, ele já enviou mel acreano para diversos estados, mesmo enfrentando o custo elevado do frete. O passo seguinte, segundo ele, é estruturar a cadeia para atender o mercado local e abrir portas para fora.
“Eu não sou acreano, mas torço pelo Acre. O estado tem um potencial gigante para o mel — e o melhor: sem desmatar. Basta dar condições.”