“O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”. (Platão)
JOABE LIRA, O VENTRÍLOQUO
O presidente da Câmara de Rio Branco, vereador Joabe Lira, levou a Casa Legislativa ao teatro do improviso. Suspendeu a sessão de quarta-feira, 14, pela manhã, sumiu do radar e reapareceu às 15h15 para convocar nova sessão às 15h30. Quinze minutos. Foi o tempo dado pela Mesa Diretora para que os demais parlamentares retornassem a Câmara para votar um empréstimo de R$ 67 milhões. A oposição? Nem viu a cor da tramoia. Nos bastidores, Joabe tem sido chamado de ventríloquo do Executivo. Quem o observa no plenário, vê a boca se mexer, mas a voz… vem de outra direção. Não é dele. É da Prefeitura de Rio Branco.
PRESSA DE QUÊ?
A rapidez não foi inocente. Quando uma gestão corre desse jeito, é porque não quer testemunha. Nem imprensa, nem povo, nem debate. Só o sim automático dos vereadores da base. A pressa em aprovar o empréstimo foi só mais um capítulo da novela em que a Câmara faz de conta que é independente.
CÂMARA OU PUXADINHO?
A manobra tem nome: desrespeito institucional. Joabe, que preside a Casa do Povo, ou pelo menos deveria, preferiu fazer dela puxadinho da Prefeitura de Rio Branco. A aprovação relâmpago lembra que, às vezes, o maior inimigo da democracia não é o voto contrário. É o silêncio forçado.
JÁ ESCOLHEU O PAPEL
Na política, há quem fale grosso com o Executivo e há quem apenas mova os lábios. Joabe, neste episódio, mostrou qual dos dois papéis preferiu interpretar.
NEM DISFARÇA MAIS
O clima na Câmara é de quem já perdeu o pudor. Não se tenta mais parecer democrático. O que importa é obedecer ao chefe do Executivo. A “urgência” só serviu para esconder a vergonha. Mas como diz o velho ditado da política acreana: quem corre para não se explicar, sabe o que está escondendo.
UM DOS POUCOS
O vereador André Kamai foi um dos poucos parlamentares que teve coragem de questionar pontos relevantes do projeto: Quem vai operar os ônibus? Quem vai pagar a conta? Como será a gestão? O silêncio da base foi ensurdecedor. Preferiram a fidelidade cega ao prefeito do que a transparência com a população.
DESCEU O SARRAFO
Éber Machado, como sempre, sem meias-palavras. Disse que a Casa “sangrou a democracia” — e não está errado. Foi mais além: chamou o processo de ilegítimo, denunciou que nem foi chamado pra discutir o projeto na comissão da qual faz parte. E ainda jogou a real: o empréstimo é de 20 anos, a vida útil dos ônibus é de 10. Quem vai pagar pela sucata nos outros 10?
A CÂMARA SORRI E ACENA
Bocalom deu entrevista dizendo que até ele andaria de ônibus se o sistema melhorar. O mesmo prefeito que já disse que ônibus bom é ônibus vazio. Agora, quer posar de europeu moderno. Enquanto isso, a base na Câmara sorri e acena. A maioria ali não lê o projeto, só segue ordem de cima. É a Câmara do “sim, senhor”.
DESTINO DA CHAVE DO VEÍCULO
Concordo com o vereador Kamai quando diz que não há motivo razoável para um vereador votar contra a compra de uma nova frota de ônibus para o município, tendo em vista a necessidade de renovação. Afinal de contas, toda sessão tem um parlamentar denunciando a precariedade dos coletivos na Capital. O problema não está no empréstimo — está no destino da chave do veículo.
AÍ É BRINCADEIRA
Se for o município que vai operar, muito bem. Agora, se a frota nova for parar nas mãos da empresa Rico, sem licitação e sem plano, aí é outra conversa. Seria o caso clássico de fazer cortesia com o chapéu alheio — no caso, com o dinheiro do contribuinte.
CAÇA ÀS BRUXAS
O comando no alto escalão do governo Gladson Cameli é farejar simpatizantes da candidatura do senador Alan Rick. O recado interno é claro: cargo de confiança só pra quem reza na cartilha do governo. Quem desvia o olhar do altar oficial corre risco de demissão.
AVISEM AOS GÊNIOS
Esqueceram de avisar aos gênios do gabinete que em política majoritária não se cisca voto pra fora — se conquista. Mas tem gente que ainda acredita que fidelidade se impõe no grito — e depois se espanta com o resultado das urnas.
TEATRO DA MORALIDADE?
Na Câmara de Rio Branco, o requerimento que proíbe viagens e diárias para cursos fora do estado continua com três solitárias assinaturas. Os vereadores Lucilene Vale e Joaquim Florêncio até assinaram o pedido para cortar as viagens, mas voltaram atrás. O motivo? Joaquim resumiu bem: “não posso tirar o direito dos colegas de viajarem”. Pronto. Está dito. É mais fácil abrir mão da coerência do que da passagem aérea.
MORAL POR 24h
O requerimento foi protocolado um dia depois do MP abrir investigação sobre viagens suspeitas. Coincidência? Não. Foi o susto. Passado o susto, voltaram ao normal: agenda liberada, diária garantida e “aperfeiçoamento legislativo” com sol, praia e certificado.