Com uma fala marcada por espiritualidade, força e sabedoria ancestral, a indígena Júlia Yawanawá, criadora e coordenadora do projeto Raute, conquistou o público no painel sobre gênero e bioeconomia no TXAI Amazônia. Para ela, não há desenvolvimento sustentável sem reconhecer o valor do conhecimento das mulheres da floresta.
“O mundo está descobrindo agora os poderes de uma batata que a gente come há gerações. O que chamam de inovação, para nós, já é sabedoria”, provocou Júlia, referindo-se à pesquisa científica que aponta propriedades medicinais em alimentos tradicionais das comunidades indígenas.
Júlia denunciou a visão limitada que relega as mulheres indígenas apenas ao artesanato e à cozinha. “Nosso papel vai muito além. Somos líderes, formadoras de opinião, protetoras da floresta e da vida. Escolhemos o que plantar, o que curar, como educar”, afirmou.
Ela citou com orgulho o exemplo de mulheres Yawanawá que romperam barreiras espirituais e passaram a liderar cerimônias antes restritas aos homens. “Elas provaram que a mulher não é fraca, não é inferior. Quando uma mulher põe algo no coração, só Deus tira.”
Júlia também falou sobre o conceito de Raute, que representa proteção, beleza e espiritualidade nas vestimentas indígenas: “A beleza que cura, que te protege, que anda com você. Isso também é bioeconomia”.
A mensagem final foi um manifesto: “a floresta não é só matéria-prima. É vida, é espírito. Somos a floresta que resiste. E a força de um povo começa pela comida. Alimentação é cultura, é saúde, é educação — e é economia.”